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Aristóteles e o Motor Imóvel: tudo que se move é movido por algo

Motor Imóvel

O Motor Imóvel é um conceito aristotélico que pretende demonstrar racionalmente a existência de um princípio supremo da natureza. Contudo, não devemos comparar este conceito com a ideia de Deus da tradição judaico-cristã, pois o Motor Imóvel não é uma visão antropomórfica de um ser que se importa com o mundo. Para Aristóteles, tudo tende para esse princípio, que movimenta todas as coisas. Utilizando uma comparação do próprio Aristóteles, ele é como o ser amado que atrai o amante sem precisar fazer nada.

Aristóteles percebeu que tudo está em movimento. O ciclo da natureza é formado pelo eterno nascimento, crescimento e morte. Da mesma forma que as folhas de uma árvore nascem, crescem e caem mortas, dando suporte para a vida na floresta, todos os seres estão submetidos a esse movimento eterno. Contudo, tudo o que se move é também movido por algo, pois este é o princípio do movimento. Desde o crescimento das plantas, das árvores, o movimento dos animais, dos planetas, enfim, todo o movimento da natureza tem um princípio único, um primeiro movimento ou primum movens que não está, ele mesmo, sujeito ao movimento, caso contrário, ele também iria perecer. Por isso Aristóteles afirmou que esse motor é imóvel, pois move todas as coisas, mas não move a si mesmo. Como não está submetido às leis do movimento, ele é eterno e imutável e imaterial.

Com efeito, o princípio e o primeiro dos seres é imóvel tanto em si mesmo quanto acidentalmente, mas produz o movimento primeiro eterno e único. E, posto que todo movido é, necessariamente, movido por algo, o primeiro motor é necessariamente imóvel em si, e o movimento eterno tem de ser produzido por algo eterno, e o movimento único por algo uno. (ARISTÓTELES, 2006,1072 a, 25-36)

Ao investigar a natureza, Aristóteles concluiu pela existência de várias substâncias, tanto materiais quanto imateriais. A substância imaterial em seu estado mais puro e elevado é o primeiro motor imóvel, ou aquilo que, a despeito das várias coisas que dão origem ao movimento, seria o primeiro movimento. Desta forma, Aristóteles afirma tanto a existência de substâncias imateriais quanto a existência de vários motores, sendo o primeiro motor a primeira causa, não existindo nada acima dele.

Todos os que consideram o universo uma unidade e postulam como sua matéria uma certa coisa, e matéria corpórea dotada de grandeza espacial, estão claramente equivocados em muitos aspectos. Eles somente supõe elementos de coisas corpóreas, e não incorpóreas, que também existem. Tentam indicar as causas da geração e destruição, investigam a natureza de tudo…e, ao mesmo tempo, suprimem a causa do movimento. (ARISTÓTELES, 2006, 988 b, 25)

Esse conceito irá inspirar vários filósofos escolásticos, entre eles Tomás de Aquino, Guilherme de Ockan e Anselmo de Cantuária, que atribuíram ao Motor Imóvel características da teologia cristã. Anselmo, baseado em Aristóteles, irá afirmar que Deus é um ser acima do qual nada pode ser pensado. A filosofia escolástica, ainda inspirada no pensamento aristotélico, irá declarar que o mundo é criado por Deus, mas não de Deus, pois de acordo com Aristóteles o Primeiro Motor não é criador da matéria, mas apenas deu início ao seu movimento. Porém, Aristóteles sequer chega a falar em ser supremo, sendo que o Deus Aristotélico não é mais que a primeira causa, a causa que sustenta o cosmo, o ato puro.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ARISTÓTELES. Metafísica. São Paulo: Edipro, 2006.

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Autor: Alfredo Carneiro
Editor do netmundi.org
twitter:@alfredo_mrc

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