A não-ação (ou Wu wei) é um dos conceitos centrais do taoismo. Significa, grosso modo, que quanto mais permitimos que o mundo siga seu fluxo natural, melhor para todos, pois a natureza possui uma sabedoria intrínseca.
A não-ação não corresponde à imobilidade ou preguiça, como afirma o senso comum, mas sim à disposição de espírito que permite a manifestação Tao em nossas vidas. Não tem relação com estar parado ou trabalhando, mas sim com a naturalidade do ser humano.
Conforme o taoismo ensina, se ficamos sempre angustiados com os vários problemas da vida e, por outro lado, eufóricos quando algo bom acontece, somos como a folha que o vento leva de um lado para o outro conforme as calmarias e tempestades. Mesmo parados, mergulhados em angústias e ilusões, estamos agindo e impedindo que a benevolência do Tao se manifeste.
Não-ação, portanto, não tem relação com imobilidade, pois, na maioria das vezes, aquele que pratica a não-ação está agindo e trabalhando, mas com uma disposição de espírito despojada, sem se importar com resultados, recompensas e fracassos.
A não-ação permite a calma que observa o mundo com tranquilidade; sua prática não apenas equilibra a vida, mas equivale ao próprio Tao, que age de forma misteriosa, profunda e incompreensível para nós.
Conforme alguns comentaristas ocidentais do taoismo afirmam (como Richard Wilhelm), esse é o aspecto místico da não-ação, pois seria capaz de invocar a força harmoniosa da natureza.
“Tao” por vezes é traduzido como “caminho”. A frase abaixo, dita por um dos antigos mestres do taoismo, também pode ser traduzida como “O Tao é uma constante não-ação”:
“O caminho é uma constante não-ação, em que nada fica sem ser feito.”
– Lao-Tzu, autor do Tao-te King
Abaixo, um pequeno conto taoista que reflete tanto o indivíduo que pratica a não-ação quanto aqueles que, como as folhas, o vento leva de um lado para o outro.
Um conto taoista sobre a não-ação
Um velho fazendeiro trabalhava em seu campo por muitos anos. Um dia seu cavalo fugiu. Ao saber da notícia, seus vizinhos vieram visitá-lo.
— “Que má sorte!” eles disseram solidariamente.
— “Talvez,” o fazendeiro calmamente replicou.
Na manhã seguinte o cavalo retornou, trazendo com ele três outros cavalos selvagens.
— “Que maravilhoso!” os vizinhos exclamaram.
— “Talvez,” replicou o velho homem.
No dia seguinte, seu filho tentou domar um dos cavalos, foi derrubado e quebrou a perna. Os vizinhos novamente vieram para oferecer sua simpatia pela má sorte, uma vez que seu filho era seu único ajudante naquele difícil trabalho dos campos.
— “Que pena,” disseram.
— “Talvez,” respondeu o fazendeiro.
No próximo dia, oficiais militares vieram à vila para convocar todos os jovens ao serviço obrigatório no exército, que iria entrar em guerra. Vendo que o filho do velho homem estava com a perna quebrada, eles o dispensaram. Os vizinhos congratularam o fazendeiro pela forma com que as coisas tinham se virado a seu favor.
O velho olhou-os e disse suavemente: “Talvez.”
Autor: Alfredo Carneiro – Graduado em Filosofia e pós-graduado em Filosofia e Existência pela Universidade Católica de Brasília.