Richard Wagner: Biografia, Nietzsche, Hitler e 10 músicas para baixar
Ao contrário da maioria dos grandes gênios da música, as primeiras experiências artísticas de Richard Wagner (1813-1886) vieram do teatro. O pai morreu quando ele tinha apenas 6 meses, e sua mãe casou-se novamente. Tanto o pai quanto o padrasto eram artistas amadores de teatro, bem como duas de suas irmãs.
O impacto da dramaturgia na infância de Wagner definiu toda sua obra, que ele mesmo chamava de “dramas musicais”.
A educação musical de Wagner, pelo menos inicialmente, foi dispersa. O padrasto já havia notado seu talento musical, mas foi somente aos 12 anos que ele começou a ter aulas de piano.
Wagner tinha um tio intelectual, em cuja biblioteca ele passava muito tempo e adquiriu grande bagagem cultural, traduzindo do grego para o alemão os doze volumes da Odisseia, de Homero, aos 13 anos de idade.
Futuramente, o interesse pela mitologia — em especial a grega e a nórdica — inspirou algumas de suas mais importantes óperas.
Prosseguiu seus estudos em violino e princípios de sonata. Aos 19 anos já havia composto duas sonatas, um quarteto de cordas, uma ária e uma abertura. Na mesma época, ingressou na Universidade de Leipzig. Apesar dos estudos fragmentados, o jovem gênio tinha um aprendizado acelerado.
União entre drama, música, mitologia e filosofia
Seu contato com a obra de Beethoven foi também uma marcante influência, bem como a soprano Wilhelmine Schröder-Devrien, a quem ele admirou profundamente, vendo nela a fusão perfeita entre música e dramaturgia.
Tudo isso formou o grande mosaico de ideias que inspirou Wagner na composição das óperas que se tornaram seu grande legado artístico.
Seu perfeccionismo fez com que ele mesmo escrevesse seus libretos (textos que incluem as falas e cantos dos personagens), tarefa que normalmente os compositores de ópera não faziam.
Sua habilidade genial para elaborar óperas grandiosas e impactantes — bem como suas ideias políticas — conquistaram a admiração de monarcas e influenciaram músicos, artistas, intelectuais e políticos ao longo século XX.
Essa união perfeita entre drama, música, mitologia e filosofia tiveram forte impacto no filósofo Friedrich Nietzsche e no líder nazista Adolf Hitler.
Influências sobre Nietzsche e Hitler
O filósofo Friedrich Nietzsche, inicialmente, percebeu na música de Wagner uma arte de afirmação da vida e dos valores superiores da alma.
Porém, depois se decepcionou com a inserção de elementos cristãos nas óperas — em especial Parsifal — pois via no cristianismo uma doutrina de rebaixamento do ser humano (escreveu: “pecado é um jovem saudável arrependido numa Igreja”).
Após a ópera Parsifal e o Festival de Bayreuth, Nietzsche não via mais nada de admirável em Wagner, pois, para o filósofo, o compositor degenerou sua arte para agradar a um público raso, fútil e abastado.
Posteriormente (e talvez devido à sua experiência com Wagner) Nietzsche passou a desacreditar que a cultura pudesse elevar o homem, passando a afirmar que só podemos nos realizar plenamente através da busca individual pela nossa Vontade de Potência.
Adolf Hitler se inspirou nas óperas de Wagner para criar os impactantes discursos que, tragicamente, ajudaram a consolidar o nazismo.
O líder nazista acreditava que Richard Wagner era um símbolo da superioridade cultural, artística e intelectual da Alemanha, e disse que “só entende o nazismo aquele que conhece Wagner”.
Hitler admirou profundamente as ideias políticas e os textos antissemitas de Wagner, em que o compositor acusava os judeus de deturparem a cultura alemã, chegando a chamá-los de “ex-canibais treinados em negócios”.
Pouco antes do início da Primeira Guerra, em 1914, quando Hitler era apenas um artista frustrado que pernoitava em abrigos para mendigos, assistiu Rienzi, de Wagner, na Ópera Estatal de Viena. Declarou mais tarde: “tudo começou ali”.
Conflitos, esposas e atividades revolucionárias
Tal como muitos gênios da música, a vida de Richard Wagner foi marcada por conflitos de personalidade, fugas, exílios, uma vida extravagante e uma total inabilidade em lidar com as finanças.
Como esperado, Wagner se mudou (ou fugiu) várias vezes e até mesmo foi preso devido às dívidas que acumulava.
Como se não bastasse, se envolveu em atividades revolucionárias com o anarquista Mikhail Bakunin, fato que lhe obrigou a fugir às pressas da cidade de Dresden, onde já estava estabelecido confortavelmente e casado com Minna Planer, sua primeira esposa.
Porém, seu carisma, sofisticação e talento musical conquistaram a amizade de artistas influentes, empresários e monarcas que sempre lhe socorriam (entre eles, Napoleão III, e Luís II).
Além da música, Richard Wagner escreveu vários livros, poemas e ensaios de caráter político e filosófico. Conforme dito anteriormente, sua produção literária tinha elementos antissemitas que posteriormente angariaram elogios apaixonados de Hitler.
Wagner se envolveu com a esposa de um de seus admiradores, o empresário Otto Wesendonck — motivo pelo qual Minna Planer o abandonou.
Casou-se novamente com Cosima, que se separou do marido Hans von Bülow, regente e amigo de Wagner, para casar com o compositor alemão, de quem já estava grávida (pelo visto, era perigoso ser casado e amigo de Wagner).
Cosima era mais tolerante e não ligava para as relações de Wagner com outras mulheres, pois acreditava ser sua alma gêmea, e foi sua esposa até sua morte.
O Festival de Bayreuth e morte em Veneza
Seguindo sua tendência para coisas grandiosas (ou talvez megalomaníacas), Richard Wagner decide construir um teatro dedicado à divulgação de suas óperas.
Não se tratava de um projeto modesto, mas da construção de um teatro atrelado a um evento de proporções mundiais. O local escolhido foi a cidade alemã de Bayreuth.
Para isso, Wagner contou com o apoio de Luis II e alguns sultões. Até mesmo o Imperador do Brasil, Pedro II, inicialmente, se ofereceu para ajudar na empreitada (entre vários outros monarcas e empresários que gostariam de ver seu nome ligado a um projeto da alta cultura europeia).
Era um projeto gigantesco que coincidia perfeitamente com a própria visão de grandiosidade artística de Wagner (ou com sua personalidade).
O evento ficou conhecido como Festival de Bayreuth. Em sua inauguração, em 1876, aristocratas, reis, sultões e artistas se acotovelaram para assistir ao grandioso festival e às óperas suntuosas do compositor alemão.
O Festival de Bayreuth existe até hoje e é administrado pelos descendentes de Wagner. Mesmo atualmente, entusiastas aguardam anos para conseguir um ingresso graças à grande procura.
Durante a ascensão de Hitler, o festival era administrado pelo Partido Nazista, já que o Führer era um fervoroso admirador de Wagner.
Em 1883, Richard Wagner morre de ataque cardíaco nos braços de sua esposa e na presença dos filhos no Palazzo Vendramin, onde a família ocupava vários cômodos luxuosos e decorados de forma refinada pelo próprio Wagner.
Confira abaixo 10 músicas mais populares de Richard Wagner para ouvir e baixar
- A Cavalgada das Valquírias
- Entrada dos Deuses em Valhalla
- O Crepúsculo dos Deuses (Abertura)
- Tristão e Isolda (Prelúdio)
- Tannhäuser (Abertura)
- Parsifal (Prelúdio)
- Rienzi (Abertura)
- Lohengrin (Prelúdio)
- Fausto (Abertura)
- O Navio Fantasma (Abertura)
Autor: Alfredo Carneiro – Graduado em Filosofia e pós-graduado em Filosofia e Existência pela Universidade Católica de Brasília.