Ex Machina surpreende não apenas pela narrativa tensa e bem escrita, mas também pela atualidade das reflexões apresentadas. Os questionamentos acerca do pensamento das máquinas e da consciência humana atravessam praticamente todo o filme, levando também em consideração as implicações éticas que surgem com a evolução da tecnologia digital e da internet. Além disso, os personagens explicam detalhadamente experimentos como o Teste de Turing e o Quarto de Maria, que são importantes para o entendimento da IA (Inteligência Artificial). Nesse sentido, o filme é praticamente uma aula sobre esses temas.
Existe também uma homenagem explícita ao filósofo Ludwig Wittgenstein, como o nome da empresa Blue Book (título de um de seus livros), o retrato da irmã do filósofo feito pelo pintor Gustav Klimt — que surge em várias cenas — e o estilo de vida isolado próximo às geleiras, como fez o próprio Wittgenstein em uma fase de sua vida. Alan Turing, um dos pais da computação e criador do Teste de Turing, debateu com Wittgenstein em Cambridge. As contribuições deste filósofo para a filosofia da mente e da linguagem podem ter sido o motivo desta homenagem feita em Ex Machina.
A sedução da inteligência artificial
Ava, a androide do filme, foi projetada para ser astuta e usar estratégias de sedução. Este seria então um nível mais avançado do Teste de Turing, onde a máquina não apenas tenta enganar o homem como também faz com que ele se envolva emocionalmente. A cena onde várias androides aparecem guardadas dentro de armários enquanto uma delas está deitada nua na cama, aguardando o momento em que seu criador queira fazer sexo, também mostra a ideia da mulher como objeto (talvez fruto da forma como seu criador vê as mulheres). Esta noção limitada, aliada à inteligência artificial, acaba gerando consequências drásticas. Se o criador de Ava não pensa assim, pelo menos a criou com essa ideia.
Além de todas as implicações que a inteligência artificial suscita, como a superação completa das habilidades humanas, Ex Machina propõe ainda a possibilidade de nos apaixonarmos por máquinas projetadas com este objetivo. O personagem Caleb Smith, o ingênuo funcionário da Blue Book que testa Ava, recebe uma advertência de Nathan Bateman, CEO da empresa e criador da androide: “Você está com pena dela? Sinta pena de si mesmo, pois um dia a IA vai nos olhar como nós olhamos os fósseis”.
Toda a narrativa do filme é praticamente um Teste de Turing, tanto para os personagens quanto para o próprio espectador. A relação homem versus máquina tem sido um dos temas recorrentes do cinema, principalmente na ficção científica — e esta relação também é uma preocupação da filosofia contemporânea. No filme, acabamos nos envolvendo com o “drama” de Ava, o que acaba demonstrando nossa tendência de humanizar as máquinas. Caleb chega a pensar se ele mesmo não é uma máquina programada para pensar que é um ser humano, o que não chega a ser uma dúvida tão absurda. Fatalmente questionamentos desta natureza surgirão quando a IA avançar um pouco mais.
Autor: Alfredo Carneiro
Editor do netmundi.org
Referências Externas