Entrevista com o Vampiro: imortalidade e sentido
Entrevista com o Vampiro, traduzido para o português por Clarice Lispector, pode ser considerado um livro filosófico. Anne Rice conduz de forma brilhante, através de uma simbologia vampiresca, uma história cheia de angústia, paixão e crises existenciais. Lestat, vampiro inconsequente e narcisista, atravessa os séculos de forma irrefletida e superficial, sem nunca questionar sua condição ou origem dos vampiros. Quando ele transforma Louis, um homem angustiado para quem a vida perdera o sentido devido à morte da esposa, os personagens são lançados em um submundo onde toda uma comunidade de vampiros tenta sobreviver aos séculos enfrentando a maldição da eternidade.
O questionamento existencial em Entrevista com o Vampiro
A história, longe de ser apenas sobrenatural, explora o mais humano e profundo questionamento filosófico: qual o sentido de nossas vidas? Cada século traz um novo sentido, que se encaminha para outro sentido. O vampiro deve acompanhar essa evolução, caso contrário, sua alma antiga, enterrada no seu passado humano, não consegue se adaptar.
Anne Rice conduz toda a saga dos vampiros, não apenas nesse livro mas em outros, levando sempre em consideração os problemas existenciais da imortalidade.
É natural que, para um ser imortal, a vida nunca se realize de fato, pois nunca acaba. Desta forma, de tempos em tempos o vampiro é acometido de uma angústia que ele busca aplacar através da arte, viagens e novos companheiros. O problema é que sua identidade original, com o passar dos séculos, começa a se perder.
As pessoas que amava já morreram, suas histórias ficam cada vez mais distantes e ele precisa de novas histórias que por sua vez também ficam distantes. Depois de um tempo tudo começa a perder o sentido, pois o ciclo natural de realização do sentido de uma vida precisa que esta vida acabe. O sentido da imortalidade, nas obras de Anne Rice, é demonstrar que a vida precisa acabar para fazer sentido.
Por isso morremos: para que se cumpra o sentido de nossas vidas. Mas, se não morremos, como os vampiros, a existência perde o sentido. Para Anne Rice, a perda do sentido é a maldição da imortalidade.
O vampiro é um ser condenado a uma vida de escuridão, sem luz nem sentido. A angústia dos vampiros antigos deixa para o leitor uma mensagem: quando a hora chegar, é preciso morrer. Ou, como disse Nietzsche, “complete sua vida e, somente então, morra”.
Autor: Alfredo Carneiro
Editor do netmundi.org