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As Fábulas de Esopo: metáforas da natureza humana

Fábulas de Esopo - Metáforas da Natureza Humana

Esopo (620 a.C – 564 a.C) foi um escritor da Grécia Antiga a quem é atribuída a autoria de várias fábulas de caráter moral. As fábulas de Esopo exerceram grande influência na literatura mundial, além de serem populares até hoje. É considerado o criador desse gênero literário, e foi citado até mesmo por Platão e Aristóteles, fato que comprova sua popularidade entre os gregos já naquela época, principalmente em Atenas. A surpreendente corrida entre uma tartaruga e uma lebre é uma das fábulas mais conhecidas de Esopo, e atravessou os séculos transmitindo uma mensagem de sabedoria de forma simbólica e universal, capaz de ser compreendida em qualquer época ou cultura.

Não se sabe ao certo as origens de Esopo, contudo, alguns animais citados são mais comuns na África do que na Grécia. Isso gerou a suposição de que seria africano, possivelmente da Etiópia. Também teria sido escravo de um cidadão da colônia grega de Samos, terra natal dos filósofos Epicuro e Pitágoras.

Ainda que as fábulas de Esopo tenham se incorporado à educação das crianças, sempre foram muito utilizadas por artistas, filósofos e escritores em suas obras, pois são uma sofisticada forma de transmitir ensinamentos de forma intuitiva. O filósofo alemão Arthur Schopenhauer utilizou esse gênero literário para criar sua própria fábula do porco-espinho e demonstrar os problemas da vida em sociedade.

As Fábulas de Esopo apresentam de forma metafórica os problemas inerentes à natureza humana, como a preguiça, a trapaça e a arrogância. Em algumas narrativas, a disciplina e a persistência resultam em desfechos surpreendentes, enquanto que a ingenuidade resulta em morte e prejuízo.

Suas histórias atravessaram os séculos, sendo recriadas por autores como o fabulista Jean de La Fontaine no século XVII, além de muito citadas em filmes, músicas e outras produções artísticas.

No Brasil, o escritor Monteiro Lobato também adaptou algumas fábulas de Esopo para o Sítio do Pica Pau Amarelo. O músico Raul Seixas, em sua música “Como vovó já dizia”, fez referência à fábula A Cigarra e as Formigas — versão de La Fontaine da fábula O Gafanhoto e as Formigas, de Esopo. Raul defende a cigarra: “A formiga só trabalha porque não sabe cantar”.

Os animais das fábulas promovem um afastamento da narrativa, como se falassem sobre personagens distantes de nós. No final das contas, as Fábulas de Esopo são uma metáfora da natureza humana, tanto em seus aspectos positivos quanto negativos. O afastamento que as fábulas produzem são, na verdade, uma assustadora proximidade de nós mesmos.

Confira abaixo algumas das mais famosas Fábulas de Esopo.

A maioria das ilustrações deste post são do ilustrador americano Milo Winter.


A Lebre e a Tartaruga


Fábulas de Esopo: Metáforas da Natureza Humana

Uma lebre estava fazendo pouco caso da tartaruga por ser tão lenta.

“Você já chegou a algum lugar?” Perguntou dando uma risada.
“Sim”, respondeu a tartaruga, “e eu chego mais rápido do que você. Vou fazer uma corrida e provar”.

A lebre ficou ficou rindo da ideia de correr com a tartaruga, mas pela diversão, concordou. 

A raposa consentiu em ser o juiz e determinou a distância a ser percorrida.

A corrida iniciou e a lebre logo ficou longe de vista. E para fazer a tartaruga perceber como era ridículo tentar vencê-lo em uma corrida, se deitou ao lado do percurso para tirar uma soneca até a tartaruga recuperar o atraso.

Enquanto isso, a tartaruga continuava devagar, mas com firmeza, e, depois de um tempo, passou pelo local onde a lebre estava dormindo profundamente.

Quando a lebre finalmente acordou, a tartaruga estava perto do final da corrida. Desesperada, a lebre correu o mais rápido que podia, mas já era tarde demais. A tartaruga venceu a corrida.


As Formigas e o Gafanhoto


Fábulas de Esopo: Metáforas da Natureza Humana

Em um dia ensolarado, uma família de formigas passeava sob o sol, secando os grãos que haviam armazenado durante o verão, quando um gafanhoto faminto, com o violino embaixo do braço, apareceu e humildemente pediu um pouco daqueles grãos.

“O quê!”, gritaram as formigas, surpresas, “você não guardou nada para o inverno? O que você estava fazendo durante todo o verão?

“Não tive tempo de guardar comida”, lamentou o gafanhoto; “eu estava tão ocupado fazendo música que, antes que eu percebesse, o verão acabou.”

As formigas se mostraram indiferentes.

“Fazendo música? Muito bem; agora dance!”

Viraram as costas para o gafanhoto e continuaram seu trabalho.


A Raposa e as Uvas


Fábulas de Esopo: Metáforas da Natureza Humana

Um dia uma raposa encontrou um belo cacho de uvas penduradas em uma videira ao longo dos galhos de uma árvore.

As uvas pareciam prontas para estourar com suco, e a raposa ficou com água na boca.

O cacho pendia de um galho alto, e a raposa tentou pular para alcançá-las.

A primeira vez que pulou, nem chegou perto. Então tomou distância e deu um pulo, apenas para fracassar mais uma vez.

De novo e de novo tentou, mas em vão.

Então, sentou e olhou para as uvas com nojo.

“Que bobagem a minha”, pensou. “Aqui estou me desgastando para conseguir um cacho de uvas azedas que não valem o esforço.”

E saiu caminhando com desprezo.


O Lobo e o Cordeiro


Fábulas de Esopo: Metáforas da Natureza Humana

Um lobo estava bebendo em uma nascente na encosta de uma colina. Ao olhar colina abaixo, viu um cordeiro que também bebia da mesma nascente.

“Aqui está meu almoço”, pensou ele, “vou inventar uma desculpa para prender sua atenção e me aproximar.”

Então o lobo gritou: “como se atreve a sujar minha água?”

“Não”, respondeu o cordeiro; “estou abaixo de você, não estou sujando sua água.”

O lobo então respondeu: “fiquei sabendo que você falava mal de mim ano passado.”

“Não pode ser”, disse o cordeiro; “eu tenho apenas seis meses”.

“Não importa”, rosnou o lobo já próximo de sua ingênua presa; “se não era você, era seu pai”.

E assim, chegou perto o suficiente para atacar e comer o cordeiro.


O Leão e o Rato


Fábulas de Esopo: Metáforas da Natureza Humana

Um leão dormia na floresta com a cabeça apoiada nas patas. Um pequeno e desajeitado rato, que passava apressado, tropeçou e caiu no nariz do leão.

Despertado de seu cochilo, o leão colocou sua enorme pata com raiva na pequena criatura para matá-la.

“Poupe-me!” Implorou o pobre rato. “Por favor, deixe-me ir e um dia eu certamente retribuirei você.”

O leão achou engraçado pensar que um rato poderia ajudá-lo. Mas foi generoso e soltou o a pequena criatura.

Alguns dias depois, enquanto perseguia sua presa na floresta, o leão foi pego por uma rede de caçador. Incapaz de se libertar, ele encheu a floresta com seu rugido raivoso.

O rato conhecia aquele rugido e rapidamente encontrou o leão lutando na rede.

Correndo para uma das cordas que o amarravam, roeu até arrebentar, e logo o leão estava livre.

“Você riu quando eu disse que iria retribuir”, disse o rato. “Agora você vê que mesmo um rato pode ajudar um leão.”


O Vento Norte e o Sol


Fábulas de Esopo: Metáforas da Natureza Humana

O Vento Norte e o Sol brigavam sobre qual deles era o mais forte. Enquanto discutiam, um viajante passou pela estrada envolto em uma capa.

“Vamos fazer o seguinte”, disse o Sol, “o mais forte será aquele que conseguir tirar a capa do viajante”.

“Muito bem”, disse o Vento Norte, e imediatamente lançou uma violenta rajada fria e uivante sobre o viajante.

Com a primeira rajada, as pontas da capa chicoteavam o corpo do viajante. Mas ele imediatamente se agarrou à capa, e quanto mais o vento soprava, mais apertado ele agarrava.

O Vento Norte chegou a rasgar furiosamente a capa, mas todos os seus esforços foram em vão. O viajante se agarrava a ela mesmo rasgada.

Então o Sol começou a brilhar. A princípio, seus raios eram suaves e, no calor agradável após o frio e a violência do Vento Norte, o viajante deixou a capa solta nos ombros.

Os raios do Sol ficaram, aos poucos, cada vez mais quentes. Por fim, o viajante ficou tão aquecido que tirou a capa e resolveu descansar debaixo da sombra de uma árvore. Com suavidade e esperteza, o Sol venceu a disputa


O Burro na Pele de Leão



Um burro encontrou uma pele de leão deixada na floresta por um caçador. Vestiu a pele e resolveu se divertir, escondendo-se no mato e correndo, de repente, atrás dos animais que passavam por ali.

O burro ficou tão satisfeito ao ver os animais fugindo desesperados, como se ele fosse um leão, que não pôde deixar de gargalhar com um zurro alto.

Uma raposa, que correu com o resto, parou assim que ouviu a voz. Aproximando-se do asno, ele disse com uma risada:

“Se você tivesse mantido a boca fechada, poderia ter me enganado. Mas quando abriu a boca, percebi que era um burro”


O Galo e a Raposa


Um dia, quando o sol estava se pondo, um velho e sábio galo voou para uma árvore para dormir. Antes de se recompor, ele bateu as asas três vezes e cantou alto.

Mas quando ele estava prestes a colocar a cabeça embaixo da asa, seus olhos captaram um lampejo vermelho e um nariz pontudo e comprido. Logo abaixo dele estava uma raposa.

“Você ouviu as notícias maravilhosas?”, exclamou a raposa de uma maneira muito alegre e animada.

“Que notícias?” Perguntou o galo com muita calma. Mas ele tinha uma sensação estranha e esquisita dentro dele, pois todos sabem que os galos temem as raposas.

“Sua família, a minha e todos os outros animais concordaram em esquecer suas diferenças e viver em paz e amizade a partir de agora. Eu não posso esperar para te abraçar! Desça, amigo, e vamos celebrar o alegre evento. ”

“Que ótima notícia!” Disse o galo. “Certamente estou encantado com as notícias.” Mas ele falou de maneira ausente, esticando-se na ponta dos pés. Parecia estar olhando para algo distante.

“O que você está olhando?” Perguntou a Raposa um pouco nervosa.

“Estou vendo uns cães vindo para cá. Eles devem ter ouvido as boas novas.”

Mas a raposa não esperou para ouvir mais e começou a correr.

“Espere”, gritou o galo. “Por que você corre? Os cães são seus amigos agora!

“Sim”, respondeu a raposa. “Mas eles podem não ter ouvido a notícia. Além disso, tenho uma tarefa importante para fazer. ”

O galo sorriu quando enterrou a cabeça nas penas e foi dormir, pois havia conseguido superar a astúcia da raposa.


A Raposa e o Corvo


Numa bela manhã quando a raposa procurava por comida na floresta, viu um corvo no galho de uma árvore. O corvo sortudo segurava um pouco de queijo no bico.

“Não há necessidade de procurar mais longe”, pensou a astuta raposa. “Aqui está uma refeição saborosa para o meu café da manhã.”

A raposa então correu para o pé da árvore em que o corvo estava e, olhando para cima com admiração, gritou: “Bom dia, linda criatura!”

O corvo, com a cabeça inclinada para um lado, observou a raposa desconfiado. Mas manteve o bico bem fechado e não retribuiu a saudação.

“Que criatura encantadora!” Disse a raposa. “Como as penas brilham! Que forma bonita e que asas esplêndidas! Um pássaro tão maravilhoso deve ter uma voz muito adorável, já que todo o resto é tão perfeito.

Ao ouvir essas palavras, o corvo ficou tão convencido que esqueceu todas as suspeitas e também o café da manhã.

Então, abriu o bico para exibir sua voz esganiçada. Assim, o queijo caiu direto na boca aberta da raposa.

“Obrigado”, disse a raposa enquanto se afastava. “Embora seja horrível, você tem uma voz com certeza. Mas onde está sua inteligência?


O Lobo e a Cegonha


Um Lobo estava comendo vorazmente quando um osso ficou preso na garganta. Tentou desesperadamente cuspir o osso, mas não conseguiu.

Então, foi pedir ajuda para a garça. Ele tinha certeza de que ela, com seu bico cumprido, seria capaz de tirar o osso de sua garganta.

“Vou recompensá-la”, disse o lobo, “se você puxar esse osso para mim.”

A garça ficou preocupada ao colocar o bico na garganta de um lobo. Mas ela entendeu o problema, então fez o que o lobo pediu.

Quando o lobo sentiu que o osso havia sido retirado pela garça, começou a se afastar.

“Mas e minha recompensa!” Disse a garça, ansiosa.

O lobo então respondeu rosnando: “não arrancar sua cabeça foi a recompensa!”


AutorAlfredo Carneiro – Graduado em Filosofia e pós-graduado em Filosofia e Existência pela Universidade Católica de Brasília.

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