Jean-Baptiste Debret: biografia e 40 obras para baixar
Jean-Baptiste Debret chegou ao Brasil em 1816, compondo a Missão Artística Francesa. Era formado pela Academia de Belas Artes da França, além de sua formação em Engenharia. A situação política da França, aliada à tristeza pela morte de seu único filho, trouxe Debret ao país. Seu olhar atento para a vida cotidiana nos legou uns dos mais importantes registros do início do século XIX, documentando em imagens a cultura indígena e os horrores e as injustiças da escravidão no Brasil.
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A Missão Francesa ao Brasil ocorreu a pedido de Dom João VI, e pretendia criar uma Academia de Belas Artes no Rio de Janeiro. A princípio, o trabalho de Debret tinha o objetivo de criar grandes telas oficiais para Corte Portuguesa no Brasil, além da decoração dos eventos reais.
Tornou-se professor da Escola Real de Artes e Ofícios, e foi um dos responsáveis pela primeira bandeira do Brasil independente, cujos traços e cores se mantiveram na bandeira atual do país.
Debret: retratos e relatos do cotidiano brasileiro
Motivado pela curiosidade do irmão, com quem trocava correspondências, Debret dedicou-se a registrar o verdadeiro Brasil. Tinha um interesse especial em retratar a escravidão e a cultura indígena. Além das imagens, Debret também nos legou relatos da brutal condição dos escravizados, como esta descrição das punições realizadas no “pau de paciência”, ou pelourinho, como era chamado o tronco em que os escravizados era amarrados para receber chicotadas:
“O povo admira a habilidade do carrasco, que ao levantar o seu braço para aplicar o golpe, arranha de leve a pele do prisioneiro, deixando-a em carne viva depois da terceira chicotada. Conserva ele o braço levantado durante o intervalo de alguns segundos entre cada golpe, tanto para contá-los em voz alta, como para economizar suas forças até o final da execução. O chicote ele mesmo fabrica, tem sete ou oito tiras de couro espessas e retorcidas. Esse instrumento nunca deixa de produzir efeito quando bem seco, mas amolecido pelo sangue, precisa o carrasco trocá-lo, mantendo para isso cinco ou seis ao seu lado, no chão. A dor das chicotadas é tão intensa que a vítima encontra forças para se erguer na ponta dos pés a cada nova chicotada; esse espasmo é tantas vezes repetido que o suor da fricção do seu ventre e de suas coxas acaba polindo o pelourinho.”
A influência do Iluminismo foi fundamental na escolha dos temas de seus retratos. A proposta da Enciclopédia de Denis Diderot — uma das grandes referências do iluminismo francês — era acumular em livros uma grande quantidade de conhecimento. Seguindo esta proposta, Debret dedicou-se a retratar costumes, festas populares, relações de trabalho, ocas, casas, utensílios, a fauna e a flora brasileira. Também anotava informações sobre os temas escolhidos e viajou por várias cidades do Brasil.
Jean-Baptiste Debret passou quinze anos em terras brasileiras, entre 1816 e 1831. Após esse período, decidiu retornar à terra natal. O motivo mais provável de seu retorno à França foi a publicação de seus trabalhos na Europa.
Assim, publicou em Paris entre 1834 e 1839 os três volumes da obra Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, onde exibia as suas gravuras com comentários e descrições detalhadas.
Apesar da obra não ter obtido o sucesso comercial esperado por Debret, tornou-se uma importante referência histórica. Seu olhar detalhado para cenas cotidianas nos deixou imagens que, não fosse seu interesse peculiar, não teríamos a oportunidade de conhecer.
Outros artistas estrangeiros, como o alemão Johann Moritz Rugendas, também fizeram importantes registros da realidade brasileira do século XIX.
Confira abaixo um vídeo com 35 obras de Debret e uma galeria com 40 imagens com os títulos das obras.
Autor: Alfredo Carneiro – Editor do netmundi.org