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Expresso do Amanhã: uma metáfora do mundo

Expresso do amanhã: um futuro de sempre

Expresso do Amanhã — título original em inglês Snowpiercer — é um filme de ficção científica que apresenta um futuro apocalíptico causado por uma intervenção desastrosa no meio ambiente. O resultado desta intervenção mergulhou o mundo em uma nova era glacial. A única salvação contra o frio é um trem gigantesco construído por um industrial misterioso, que criou um “motor eterno“, onde a humanidade (ou o que restou dela) é condenada a viajar pelo mundo sem nunca sair do trem, fazendo o motor funcionar.

A questão que surge no desenrolar do filme é de ordem não apenas filosófica mas também social. É um filme criativo do diretor sul coreano Joon Ho Bong, com Chris Evans como líder revolucionário.

O trem é o mundo

Expresso do Amanhã

Assim como a pirâmide social, que é formada em sua base por uma enorme massa de pobreza e um número restrito de pessoas no topo, o expresso também simboliza essa estratificação desigual. Nos últimos vagões está a população que vive em estado de penúria e come uma insuspeita “ração” que é fabricada nos vagões mais adiantados. “O trem é o mundo“, declara um de seus personagens. Nesse ponto, o filme se torna previsível, pois já esperamos uma revolução causada pelo sofrimento dos últimos vagões (isso aparece no trailer). Mas é justamente esta previsibilidade a grande questão.

Os conflitos sociais causados pela injustiça e distribuição desigual de recursos é um “eterno devir”, conforme alertava Nietzsche: “Para sempre faremos, eternamente, sempre as mesmas coisas, da mesma forma“. Não se trata de proposta socialista, mas sim do sofrimento causado pela ignorância, insensibilidade e egoísmo. Não fosse a natureza humana tão degenerada, a política seria apenas uma forma de organização, e não nosso principal problema. Leia algumas frases do filósofo alemão Friedrich Nietzsche.

A natureza humana

expresso do amanhã

Se a natureza humana fosse naturalmente boa, mesmo assim surgiria uma pirâmide social formada pelos mais capazes, afinal, essa estrutura favorece o avanço tecnológico e o debate de ideias avançadas, contudo, a visão do sofrimento seria algo inadmissível, e a busca de uma solução para esse problema seria uma prioridade. Se fosse assim, quanto mais capazes fossem os habitantes do topo, tanto melhor para todos.

Mas não adotamos a perspectiva do sofrimento humano. Atualmente uma ignorância reina no mundo, tanto no topo da pirâmide quanto em sua base. Uma ignorância que é um desconhecimento que os habitantes de cada camada têm das demais camadas. Conheça a perspectiva de Maquiavel sobre a natureza humana. Mas antes termine de ler este texto, vai….

No Expresso do Amanhã, o ódio e a  alienação de sempre

expresso do amanhã

Esta ignorância surge no filme como uma surpresa das classes mais pobres ao avançarem, pela revolução, nos vagões do trem. Conhecem confortos e comidas inimagináveis, que mal sabiam que existiam. Da mesma forma, os habitantes dos vagões adiantados ficam surpresos ao ver o surgimento das classes “dos últimos vagões”, de quem eles tinham apenas uma informação superficial e negativa. As crianças dos vagões adiantados são educadas para odiar os últimos vagões. Apenas os poucos habitantes do primeiro vagão, onde está o motor do trem, têm consciência de toda a situação. Mas acreditam que a vida deve ser assim.

Assista este filme com essa perspectiva simbólica, e você irá perceber que os vagões do trem não diferem da realidade que vivemos neste exato momento. A dramatização violenta e rápida, claro, é algo necessário para enfatizar essa mensagem, que é bem explícita.”O trem é o mundo“, mas este é de fato o mundo que queremos?

Para complementar sua reflexão sobre política e sociedade, leia dois textos de minha autoria sobre as obras A Revolução dos Bichos e Admirável Mundo Novo.

Autor: Alfredo Carneiro
editor do netmundi.org