Fedro de Platão: o misterioso daemon de Sócrates e o amor platônico
Vários tipos de relacionamentos amorosos são descritos por Sócrates na obra Fedro, de Platão. Desde aquele em que um companheiro impede a evolução do outro (para que dependa dele), passando pelo relacionamento pautado pelo sexo até a união saudável, quando os companheiros evoluem juntos.
É também uma das obras onde Sócrates fala sobre o misterioso daemon e a perturbação que ele causa quando alerta o filósofo. O daemon surge em várias obras de Platão, mas em Fedro surge a ideia do mensageiro dos deuses.
O daemon de Sócrates nas obras de Platão
Na obra Fedro, em seu primeiro discurso, Sócrates despreza o delírio do amor, dado por Eros aos amantes, e recebe uma advertência do daemon, a voz interior que alerta o filósofo sobre aquilo que não deve ser feito.
Assustado, Sócrates faz um segundo discurso afirmando que os grandes feitos dos homens foram realizados por aqueles possuídos pelo amor. A tradução literal “demônio” não tem conotação negativa, conforme ocorre após o cristianismo, sendo entendido pelos gregos antigos como mensageiro dos deuses.
Isto fica claro quando Sócrates, assustado, diz que o daemon lhe advertiu: seu primeiro discurso ofendeu Eros. Sócrates decide então fazer outro discurso de expiação, pois “tinha medo de Eros”.
O daemon surge não apenas em Fedro, mas em outras obras de Platão. Na obra O Banquete, Sócrates fica parado no meio da rua, sem nada falar, e alguém diz que isso seria comum quando ele ouve a voz do daemon.
Na obra Apologia de Sócrates o filósofo diz que já sabia de sua condenação, pois quando caminhava para seu julgamento, o daemon se calou. Sócrates entendeu que sua missão chegara ao fim.
O daemon tanto pode ser um recurso literário de Platão quanto um simbolismo para as intuições que normalmente abafamos e desprezamos, mas que Sócrates prestava muita atenção.
Fedro e o amor platônico
Não apenas os relacionamentos amorosos, mas também o surgimento da ideia do amor platônico surge em Fedro, quando o amor dá asas somente à alma do filósofo, conforme exposto neste trecho:
O filósofo é tomado do seguinte delírio: quando alguém neste mundo vê a beleza e recorda-se da beleza verdadeira, recebe asas e deseja voar; não podendo, porém, volta seu olhar para o céu esquecendo os negócios terrenos e dando desse modo a entender que está delirante. De todos os delírios, esse é o melhor e da mais pura origem, saudável para quem o possui e dele participa. Quem delira assim, ama o que é belo e chama-se amante.
O amor platônico está ligado à Teoria das Ideias de Platão. O filósofo é aquele que recorda a beleza verdadeira que sua alma vivenciou antes de decair neste mundo. Por isso, não se importa mais com as atividades mundanas, preferindo admirar essas recordações. Sócrates era um exemplo desse comportamento.
Fedro é considerado um resumo da filosofia de Platão, pois apresenta vários elementos fundamentais de seu pensamento em um pequeno e rico diálogo.
Autor: Alfredo Carneiro // Editor do netmundi.org
Referências Bibliográficas
- Platão. Apologia de Sócrates. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1970.
- Platão. Fedro. São Paulo: Martin Claret, 2007
- Platão. O Banquete. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1975
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