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Profecia Autorrealizável: quando as crenças determinam os fatos

Profecia Autorrealizável : quando a crença determina os fatos

A Profecia Autorrealizável é um conceito da sociologia moderna criado em 1949 por Robert K. Merton. Aplica-se principalmente aos grupos sociais. Sua ideia principal é: se uma previsão falsa estiver de acordo com as crenças ou expectativas de um indivíduo, ele é induzido a agir buscando confirmar a suposta profecia, tornando-a verdadeira.

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    Merton criou este conceito ao analisar boatos sobre a falência de bancos. A notícia, inicialmente falsa, gerava perda massiva de clientes e negócios, falindo efetivamente o banco. Assim, o boato tornava-se verdadeiro, contudo, era a própria causa do efeito previsto.

    A profecia autorrealizável é, no início, uma definição falsa da situação, que suscita um novo comportamento e assim faz com que a concepção originalmente falsa se torne verdadeira.

    — Robert Merton

    A profecia autorrealizável não está na lista das falácias mais conhecidas, no entanto, pode ser considerada uma falácia, pois, em um primeiro momento, é uma falsa descrição da realidade e, em um segundo momento, é uma falsa interpretação dos fatos.

    Confira este exemplo de profecia autorrealizável no mundo dos negócios, que foi justamente o ramo de pesquisa de Robert Merton:

    Em 1963, o investidor americano Warren Buffet, ciente do poder das “profecias” dos analistas financeiros, não se intimidou com as previsões negativas envolvendo a empresa de cartão de crédito American Express. A fuga de investidores derrubou o preço das ações da companhia. Contudo, Buffet conhecia o potencial da empresa e sabia que o preço das ações caiu não porque a empresa era ruim, mas porque os próprios analistas estavam causando aquilo, tal como ocorre na profecia autorrealizável. Então, aproveitou a queda dos preços para investir, o que lhe rendeu futuramente uma valorização exorbitante. Profecias autorrealizáveis também podem ser úteis para os que não se deixam influenciar facilmente. O próprio Warren Buffet disse certa vez que “lê os relatórios dos analistas quando não tem nada mais engraçado para ler”.

    Profecia Autorrealizável e Efeito Pigmaleão



    Em uma pesquisa conduzida em 1968 nos EUA por Robert Rosenthal, estudantes de uma escola conseguiram aumentar seu QI apenas recebendo o encorajamento dos professores. O nome desse estudo ficou conhecido como Efeito Pigmaleão, e mostrou como a expectativa positiva influenciou o resultado dos alunos de forma surpreendente, como se os alunos realinhassem suas percepções da realidade para se adequarem às expectativas dos professores.

    Por isso a, profecia autorrealizável pode ser entendida como fenômeno psicológico semelhante ao Efeito Pigmaleão: uma crença sobre alguém pode determinar sua percepção da realidade, seu comportamento e seus resultados.

    Da mesma forma, rotular negativamente alguém pode limitar sua visão de mundo e suas habilidades, afetando seu comportamento de forma nociva. Por isso, a mera escolha de palavras pode determinar os resultados das pessoas. Principalmente das crianças, pois são mais vulneráveis e suscetíveis às crenças e palavras dos adultos, conforme sugere a imagem acima.

    O escritor colombiano Gabriel García Márquez, Prêmio Nobel de Literatura, explorou essa ideia em seu conto “A Profecia Autorrealizável”, onde um simples comentário sombrio produz uma histeria coletiva, acabando por destruir um povoado. De forma irônica e inteligente, ele declara: “É impossível não acabar sendo do jeito que os outros acreditam que você é”.

    AutorAlfredo Carneiro – Graduado em Filosofia e pós-graduado em Filosofia e Existência pela Universidade Católica de Brasília.