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O que é Deus para você? Um pouco de Filosofia da Linguagem

O que é Deus para você?

Você acredita em Deus? Consideremos que eu faça esta pergunta para um brasileiro, que é indivíduo nascido em um país predominantemente cristão, sendo assim, provavelmente ele irá pensar que me refiro ao cristianismo.

Contudo, se eu fosse indiano, um brasileiro poderia me responder que acredita em Deus e isso me deixaria satisfeito. Mas ocorre aqui um problema de linguagem: não falamos sobre a mesma coisa.

Até mesmo católicos e evangélicos, os maiores grupos religiosos do Brasil, enfrentam problemas de linguagem, afinal, apesar de cristãos, possuem ideias diferentes. De certa forma, todo religioso é ateu de outras crenças, pois nega a concepção divina de outras religiões.

Deus e Filosofia da Linguagem


A Filosofia da Linguagem pergunta estas coisas: “O que é Deus para você?” ou  “O que é a verdade para você?”. Essas perguntas são muito diferentes destas: “O que é Deus?” ou “O que é a verdade?”.

Conforme aconselha o filósofo da linguagem Ludwig Wittgenstein (1889 – 1951), quando existe dúvida sobre uma palavra dita por alguém, não devemos procurar no dicionário, mas perguntar para quem a disse, pois seu significado muitas vezes é individual.

Entretanto, para Wittgenstein, basear minha definição em vivência interior, como fazem os religiosos, quase sempre gera problemas, pois vivência interior não é linguagem; não é referência para comunicação. Por isso a palavra “Deus” carrega problemas de linguagem.

De acordo com Gottlob Frege (1848 – 1925), um dos precursores da Filosofia da Linguagem, palavras têm sentido e referência, ou seja, cada palavra tem um sentido dado a ela e uma referência para a qual se aponta. E mesmo nesses casos, a referência pode ter mais de um sentido, gerando problemas de linguagem.

Nessa perspectiva, a palavra “Deus” tem sentido (dado pelas pessoas) mas não referência (algo para o qual apontar fisicamente), por isso, nesse caso, é impossível estabelecer acordo coletivo que satisfaça a todos.

Mesmo assim as religiões existem de forma organizada pelo mundo todo. De acordo com a perspectiva de Wittgenstein, isso ocorre por causa dos Jogos de Linguagem: grupos sociais estabelecem palavras e significados com regras fixas, tal como ocorre em qualquer jogo, e grupos religiosos são um tipo de grupo social.

Nos jogos de linguagem, as palavras não precisam necessariamente ter sentido e referência, basta que os indivíduos do grupo aceitem as regras. Assim, integrantes de determinado grupo religioso conseguem se comunicar, entretanto, não estariam de fato falando sobre coisas divinas, como acreditam, mas apenas jogando jogos de linguagem.

Autor: Alfredo Carneiro


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