O amor platônico na obra Fedro, de Platão
A expressão “amor platônico”, no sentido popular, é entendida como um tipo de amor não correspondido ou admiração da pessoa amada sem exigência de reciprocidade. Contudo, o amor platônico, conforme aparece na obra Fedro, de Platão, corresponde ao mais elevado sentimento filosófico que surge da contemplação das ideias perfeitas. Não está ligado necessariamente ao amor romântico, mas à prática da reflexão filosófica. Leia abaixo o trecho em que Sócrates descreve o amor platônico.
A alma que nunca evoluiu e nunca contemplou a verdade não pode tomar a forma humana. A causa disso é a seguinte: a inteligência do homem deve se exercer de acordo com aquilo que chamamos ideia; isto é, eleva-se da multiplicidade de sensações desse mundo para o raciocínio.
Ora, essa faculdade nada mais é que lembrança das Verdades Eternas que ela contemplou quando acompanhou a alma divina. Por isso, convém que somente a alma do filósofo tenha asas: nele, mais do que nos outros, a memória permanece fixada nessas verdades, o que o torna semelhante a um deus.
É apenas pelo bom uso dessas lembranças que o homem se torna perfeito, podendo receber em alto grau a consagração dos mistérios. Um homem desses se desliga dos interesses humanos e dirige seu espírito para os objetos divinos; a multidão o considera louco, sem perceber que nele habita a divindade.
O filósofo é tomado do seguinte delírio: quando alguém neste mundo vê a beleza e recorda-se da beleza verdadeira, recebe asas e deseja voar; não podendo, porém, volta seu olhar para o céu esquecendo os negócios terrenos e dando desse modo a entender que está delirante. De todos os delírios, esse é o melhor e da mais pura origem, saudável para quem o possui e dele participa. Quem delira assim, ama o que é belo e chama-se amante.
Autor: Alfredo Carneiro – Graduado em Filosofia e pós-graduado em Filosofia e Existência pela Universidade Católica de Brasília.