Teogonia de Hesíodo: o nascimento dos deuses gregos
A obra Teogonia, do poeta grego Hesíodo, é tão importante para a cultura da Grécia Antiga quanto as obras Ilíada e Odisseia, de Homero. Teogonia é um poema mitológico escrito no século VIII a.C. que narra a origem do mundo a partir dos primeiros deuses e o surgimento das gerações sucessivas de deuses e suas relações com os homens. Significa literalmente “nascimento dos deuses” (theos, deus + gonia, nascimento).
Teogonia é um dos mais antigos tratados de mitologia da história do Ocidente. Hesíodo e Homero eram os autores que o antigos gregos utilizavam para aprender a ler e venerar os deuses; suas obras são a base da antiga religião grega e do sofisticado ambiente cultural que propiciou o surgimento da filosofia.
Até hoje a Teogonia é referência cultural da civilização ocidental; seus deuses foram utilizados para nomear continentes, mares, planetas e constelações. Todos os planetas do sistema solar recebem o nome de um deus da Teogonia em sua versão romana. Influenciou a literatura, a filosofia e a psicologia. Hesíodo é também autor de outro poema épico: Os Trabalhos e os Dias.
Da mesma forma que Homero, Hesíodo é um personagem misterioso; seu nome significa “aquele que emite a voz”, e poderia ser, segundo estudiosos modernos, pseudônimo de algum poeta desconhecido. A inspiração sobrenatural descrita por Hesíodo deve ser entendida no contexto cultural e religioso da Grécia Antiga.
Segundo Hesíodo, os poemas da Teogonia lhe foram transmitidos no Monte Hélicon após o poeta homenagear as musas com um canto. As musas então lhe presentearam com um ramo de louros e o conhecimento sobre a origem dos deuses e as façanhas dos antigos heróis, para que fossem celebrados e reverenciados. A própria história de Hesíodo deve ser considerada lendária; é possível que ele tenha registrado na Teogonia a tradição oral que já era transmitida na Grécia Antiga pelos cantores rapsodos.
Os deuses da Teogonia
A sequência apresentada abaixo segue a ordem descrita na Teogonia de acordo com o surgimento dos mais conhecidos deuses gregos.
Deuses Primordiais
- Caos: vazio primordial que antecede a criação
- Gaia ou Terra: mãe ancestral da vida
- Tártaro: mundo subterrâneo
- Eros: amor
- Érebo ou Escuridão: nascido do Caos
- Nix ou Noite: nascida do Caos
- Éter ou Brilho Celestial: filho da união entre Noite e Escuridão
- Heméra ou Dia: filha da união entre Noite e Escuridão
- Urano ou Céu: nascido de Gaia e primeiro governante do universo
- Óreas ou Montanhas: nascido de Gaia
- Ponto ou Mar: nascido de Gaia
Os 12 Titãs
Da união entre Gaia (Terra) e Urano (Céu) surgiram 12 Titãs, os deuses pré-olímpicos. São 6 deuses (titãs) e seis deusas (titânides). Existem outros titãs, como Atlas e Perses, contudo, os filhos de Gaia e Urano são mais citados, pois, liderados por Cronos, destituíram Urano.
Titãs
- Oceano: rio primordial que circunda o mundo, o mais velho dos titãs
- Ceos: titã da inteligência
- Crio: titã das constelações
- Hiperião: titã do sol, da lua e dos astros
- Jápeto: titã da mortalidade
- Cronos: titã do tempo; destronou Urano e se tornou rei dos titãs. Cronos castrou o pai e o sangue de Urano caiu na Terra fazendo surgir os gigantes; seus testículos caíram no mar, criando uma espuma que originou Afrodite, deusa do amor e da sexualidade. Urano profetizou que, assim como ele, Cronos seria destituído por um de seus filhos. Devido a essa profecia, Cronos engolia seus filhos.
Titânides
- Febe: titânide da lua
- Mnemosine: titânide da memória
- Reia: rainha dos titãs e companheira de Cronos
- Têmis: titânide da justiça
- Tétis: titânide do mar
- Teia: titânide da visão
Filhos dos titãs Cronos e Reia
- Zeus: deus dos raios e trovões; liderou seus irmãos na batalha contra os titãs; destronou seu pai Cronos, realizando a profecia de Urano; tornou-se rei dos deuses do Olimpo
- Poseidon: deus dos mares
- Deméter: deusa da agricultura
- Hades: deus do submundo e dos mortos
- Hera: deusa da maternidade e do matrimônio, irmã e esposa de Zeus; rainha dos deuses do Olimpo
- Héstia: deusa da família, do lar e da arquitetura
Filhos dos titãs Hiperião e Teia
- Hélio: personificação do sol
- Selene: personificação da lua
- Eos: personificação da aurora
Filhos dos titãs Oceano e Tétis
- Oceânides: ninfas do mar
- Potamos: deuses dos rios
- Liminades: ninfas dos lagos
Filhos dos titãs Ceos e Febe
- Leto: deusa do anoitecer
- Astéria: deusa das estrelas; uniu-se ao titã Perses e deu origem à Hécate: deusa associada à lua, à feitiçaria e às encruzilhadas.
Filhos de Zeus mais conhecidos
Filhos divinos
- Apolo: deus da arte, da música, da luz, da verdade e da profecia; o mais cultuado da Grécia Antiga, filho da deusa Leto, irmão gêmeo de Artêmis.
- Artêmis: deusa da vida selvagem e da caça; ligada à magia e à lua, filha de Leto
- Atena: deusa da civilização, da sabedoria, da justiça, da inteligência e da estratégia militar; filha da oceânide Métis.
- Hermes: deus da eloquência, da comunicação e das viagens; também conhecido como mensageiro dos deuses e guia das almas dos mortos; filho de Maia (umas das filhas de Atlas, titã condenado por Zeus a sustentar os céus)
- Perséfone: rainha do mundo subterrâneo, companheira de Hades e filha de Deméter; deusa das estações, dos frutos e das ervas
- Dioniso: deus das festas, do vinho, do teatro e da loucura, filho da princesa mortal Sêmele, único semideus do Olimpo.
- Musas: filhas de Mnemosine, responsáveis pela inspiração artística; teriam transmitido a Teogonia a Hesíodo.
- Moiras: três irmãs que tecem o destino, filhas de Têmis
Filhos mortais (semideuses)
- Helena de Troia: a mais bela das mulheres; filha de Leda, rainha de Esparta
- Castor e Polux: gêmeos guerreiros filhos de Leda, rainha de esparta
- Hércules: Filho de Alcmena
- Minos: Filho da princesa fenícia Europa
- Perseu: Filho da princesa Dânae
Autor: Alfredo Carneiro – Graduado em Filosofia e pós-graduado em Filosofia e Existência pela Universidade Católica de Brasília.
Referência Bibliográfica
- HESÍODO. Teogonia – A origem dos deuses. São Paulo: Editora Iluminuras, 1995
- BULFINCH, Thomas. O Livro de Ouro da Mitologia. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002