Tales de Mileto: o primeiro filósofo
Segundo a tradição filosófica, Tales de Mileto (623 a.C – 558 a.C) é considerado o primeiro filósofo da história. Nasceu na colônia grega de Mileto, situada na Jônia (Ásia Menor). Supõe-se que era de origem fenícia. Realizou algumas viagens, tendo chegado até o Egito. Cultivou principalmente a matemática e a astronomia.
Tales era matemático e descobriu o teorema que leva o seu nome. Mediu a altura das pirâmides do Egito a partir de suas sombras. Como astrônomo, previu o eclipse de 28 de maio de 585 a.C.; inventou um método para medir a distância dos navios no mar; descobriu a constelação da Ursa Menor e ficou rico ao prever uma safra de azeitonas fora de temporada, alugando todas as prensas de Mileto. É considerado um dos sete sábios da Grécia pelo Oráculo de Delfos.
A pergunta feita por Tales de Mileto que inaugurou a investigação filosófica foi a seguinte: “qual é a origem de todos os seres?” A resposta do primeiro filósofo foi: “a água é a origem de tudo”. Duas outras afirmações de Tales podem ser consideradas filosóficas: “o mundo flutua sobre a água” e “tudo está cheio de deuses”.
Segundo Aristóteles, uma das principais fontes de informação sobre os pré-socráticos, Tales teria sido o primeiro a perguntar pelo princípio (arché) originário de todas as coisas ou physis originária que teria possibilitado o surgimento de todos os seres.
Partindo da percepção de que todas as coisas nascem e perecem, o filósofo procurou encontrar um elemento imperecível que seria anterior a tudo e que originaria, a partir de si, todos os outros seres.
Ao ter observado que a umidade está presente em todos os seres vivos, e que sem ela não haveria vida, Tales concluiu que a água era o princípio de todas as coisas.
Sobre o fato de Tales de Mileto ser considerado o primeiro filósofo, Friedrich Nietzsche nos diz em sua obra A Filosofia na Idade Trágica dos Gregos:
“A Filosofia grega parece começar com uma ideia absurda, com a proposição: a água é a origem e de todas as coisas. Será mesmo necessário levá-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem imagem e mitologia; e, enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora apenas em estado latente, está contido o pensamento: “Tudo é Um”. A razão citada em primeiro lugar deixa Tales ainda em comunidade com os religiosos e supersticiosos, a segunda o tira dessa sociedade e o mostra como investigador da natureza, mas, em virtude da terceira, Tales se torna o primeiro filósofo grego”
Para Aristóteles, o primeiro filósofo procedeu por indução, ou seja, observou uma série de casos particulares e generalizou as suas conclusões ao adotar a água como princípio.
Quando Tales afirma que a água é o princípio, ele não está se referindo apenas ao surgimento dos seres vivos, mas ao surgimento de todos os seres, conforme o testemunho de Aristóteles, registrado em seus escritos sobre Filosofia Primeira, posteriormente conhecidos como Metafísica:
Tales, iniciador desse tipo de filosofia, diz que o princípio é a água (por isso, afirma também que a terra flutua sobre a água), certamente tirando essa convicção da constatação de que o alimento de todas as coisas é úmido e da constatação de que até o calor se gera do úmido e vive no úmido. Ora, aquilo de que todas as coisas se geram é o princípio de tudo. Ele tirou, pois, esta convicção desse fato e também do fato de que as sementes de todas as coisas têm uma natureza úmida, sendo a água o princípio da natureza.
As outras afirmações de Tales mostram uma tentativa de explicar os fenômenos naturais, como por exemplo, o movimento e a sustentação dos astros. Ao afirmar que o mundo flutua sobre as águas, Tales pretende justificar a sustentação da Terra e do seu movimento.
Tales também observou que tudo está em movimento e que isso se deve à presença do divino em tudo. Não se pode esquecer que, para os pré-socráticos, o que existe de mais elevado é divino.
A afirmação de que tudo está em movimento em função da presença dos deuses significa que o princípio divino, a água, está presente em tudo. Essa crença sobre o caráter animado do seres aparentemente inanimados é chamada de hilozoísta, e a partir dessa crença deve ser entendida sua mais conhecida frase: “Tudo está cheio de deuses”.
A importância dos pré-socráticos
O termo pré-socrático carrega certo preconceito: é entendido como reflexão filosófica inicial que só irá amadurecer com Sócrates, Platão e Aristóteles. Também é pouco creditado aos pré-socráticos as bases que irão definir todo o pensamento ocidental depois deles.
Esse preconceito não condiz com a importância desses primeiros filósofos, que representam a aurora não apenas da Filosofia, mas da própria razão humana. Foram eles que criaram os conceitos universais que seriam utilizados posteriormente na ciência, bem como vários modelos utilizados pelos filósofos depois deles, inclusive Platão.
Alguns estudiosos desse período, como John Burnet, afirmam que os pré-socráticos representam uma sofisticada abstração que não deve ser interpretada como “filosofia inicial”, e só deveriam ser estudados depois de percorrida a longa estrada da filosofia.
- Sugestão de Leitura:
Dentre os pré-socráticos estão:
- Escola de Mileto
- Escola Jônica
- Escola Pitagórica
- Escola Eleática
- Escola Pluralista
Autor: Alfredo Carneiro – Graduado em Filosofia e pós-graduado em Filosofia e Existência pela Universidade Católica de Brasília.
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Referência Bibliográfica
- ARISTÓTELES. Metafísica. São Paulo: Loyola, 2002
- Nietzsche, F. Filosofia na Idade Trágica dos Gregos. São Paulo: Nova Cultural, 1999.
- SCHOFIELD, M. Os Filósofos pré-socráticos. Lisboa: Calouste, 1994