Sócrates nasceu em Atenas em torno de 470/469 a. C., filho de um escultor chamado Sofronisco e de Fenarete, que exercia os ofícios de lavadeira e parteira, motivo pelo qual Sócrates chamava seu método de maiêutica, que significa justamente “parir ideias”.
Casou-se com Xantipa, com quem teve três filhos já em idade avançada. Viveu até os setenta anos de idade, quando foi preso sob as acusações de não crer nos deuses da cidade, introduzir novos deuses e corromper a juventude. Foi condenado a beber cicuta e recusou-se a fugir quando teve a oportunidade, para não trair os seus ensinamentos, e enfrentou a morte com o espírito sereno.
Tal é o tema da obra “A Morte de Sócrates”, do pintor Jacques-Louis David, de 1787, que ilustra este post.
Durante parte da sua juventude interessou-se pela Filosofia da Natureza e foi discípulo de Arquelau, primeiro filósofo nascido em Atenas. A filosofia desenvolveu-se primeiro nas colônias gregas da Jônia e da Itália e posteriormente foi introduzida em Atenas por Anaxágoras.
Arquelau foi discípulo desse e o mestre de Sócrates durante a sua juventude. Segundo alguns comentaristas, a tradição de que Arquelau foi um discípulo de Anaxágoras e professor de Sócrates está bem comprovada.
O filósofo só saiu de Atenas quando foi convocado para a guerra, tendo participado das batalhas de Potidéia, Anfipoli e Délio. Foi um soldado extremamente valoroso, demonstrando muita coragem durante as batalhas.
Sua capacidade de suportar condições adversas como a fome, o calor e o frio era invejável. Além disso, demonstrava uma imensa capacidade de recolhimento e concentração.
As fontes para conhecer Sócrates
O estudo do pensamento socrático encerra alguns problemas difíceis de serem superados, em função de Sócrates não ter escrito nada. As principais fontes utilizadas para a reconstrução do seu ensinamento são os testemunhos de Aristófanes, Xenofonte, Platão e Aristóteles, de valor muito desigual.
Para Aristófanes, Sócrates era sofista, e o retratou em sua comédia “As Nuvens” de modo irônico, crítico e desfavorável. Aristófanes retrata o primeiro período da atividade filosófica de Sócrates, quando esse esteve envolvido com o estudo da filosofia da natureza, e é uma fonte importante para a reconstrução desta fase da vida do filósofo ateniense.
Aristóteles e Xenofonte são favoráveis a Sócrates e retratam a sua atividade filosófica madura. Sócrates e Aristóteles nunca se conheceram, sendo, portanto, fonte distante. Xenofonte deixou o seu testemunho nos livros Ditos e Feitos Memoráveis de Sócrates e Apologia de Sócrates.
Platão é a fonte mais importante em função de uma convivência muito próxima com o mestre e também pelos seus talentos literários. O grande problema é separar aquilo que é de Sócrates daquilo que é de Platão. Um dos critérios é o de considerar os escritos da juventude de Platão, voltados para temas éticos e pedagógicos, como os mais próximos daquilo que teria sido o autêntico ensinamento socrático.
É muito difícil saber qual fonte retrata de maneira mais fiel a personalidade e os ensinamentos do filósofo ateniense. Os historiadores atuais utilizam as quatro fontes para a reconstrução de um ou outro aspecto do pensamento socrático e consideram como o mais adequado uma comparação entre os diversos testemunhos.
Em todos há um fundo de verdade e em todos também entra muito de artifício literário. O Sócrates talvez mais conforme à realidade seria resultado da combinação do que aparece nos primeiros diálogos de Platão com os traços do que nos descreve Xenofonte, sem esquecermos de acrescentar-lhe alguns retoques da caricatura de Aristófanes.
O método Socrático
Apesar de não ter deixado nenhum escrito, Sócrates passou para a história como um dos mais importantes filósofos de todos os tempos, não apenas pelas suas qualidades pessoais e exemplos de honestidade e frugalidade, mas por ter elaborado pela primeira vez na história uma ética fundamentada em bases racionais. Outro aspecto importante da filosofia socrática foi a maneira como ele concebeu a atividade filosófica.
Quando fala-se em “método socrático”, não se deve ter em mente a sistematização de uma metodologia com regras claras e definidas que orientem a investigação. Não devemos esquecer que Sócrates não escreveu nada e não foi um sistematizador.
O que ele nos transmitiu foi a sua maneira de praticar a filosofia que, grosso modo, é uma forma de questionar as crenças de seus interlocutores, habilidade considerada fundamental para qualquer filósofo até hoje.
Para Sócrates o ser humano só poderá alcançar o verdadeiro conhecimento quando “se lembra” das ideias perfeitas que estão além deste mundo físico; essa lembrança é chamada na filosofia de Platão de reminiscência, e ocorre através de uma forma de dialogar que ficou conhecida como maiêutica ou método socrático. Sócrates representa um marco importante da história da filosofia por voltar o pensamento filosófico para esta investigação da alma humana.
Referências Bibliográficas
- DUMONT, J. P. Elementos de história da filosofia antiga. Brasília: EdUnB, 2005
- HADOT, P. O que é a Filosofia antiga? São Paulo: Lisboa, 1999.
- LAÊRTIOS, D. Vida e doutrinas dos filósofos ilustres. Brasília: Ed UnB, 1997.
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