Nascido em Abdera, Protágoras (481 – 402 a.C.) é considerado o pai do movimento sofístico e um dos seus mais importantes representantes. Esteve várias vezes em Atenas, onde teria alcançado grande fama e sucesso.
Foi amigo de Péricles, que o teria incumbido de redigir uma constituição para a colônia ateniense de Turi. Compôs muitas obras, Raciocínios Demolidores, Antilogias, Sobre os deuses, Sobre o Ser e Grandes Discursos, das quais restaram apenas fragmentos.
O núcleo fundamental do pensamento de Protágoras é o seu relativismo ético e epistemológico expresso na seguinte afirmação: “O homem é a medida de todas as coisas, das que são pelo que são, e das que não são pelo que não são ”. Esta proposição expressa um relativismo radical, pois significa a negação de que haja qualquer coisa que seja verdadeira ou falsa.
Protágoras está negando a possibilidade de um critério universal que permita ao homem conhecer a verdade e separá-la do que é falso.
As coisas são tais como aparecem ao homem, entendido aqui na sua dimensão individual. O verdadeiro e o falso, o belo e o feio, o bem e o mal são relativos e o outro termo desta relação somos nós, homens dotados de uma individualidade e subjetividade irredutíveis.
Protágoras e a relatividade da verdade
A principal virtude do homem, segundo Protágoras, é a retórica. Não existindo verdade alguma (tanto na ética como em essência) a “verdade” será definida por aquele que domina a retórica e a arte de convencer. Apesar disso, Protágoras estabelece o critério da utilidade para escolher o que é melhor para cada caso.
Muitas vezes, nos dias de hoje, quando identificamos que o orador tenta relativizar alguma coisa, trazendo a “verdade” para seu lado, dizemos que está usando um sofisma que também pode ser identificado como falácia).
Prosseguindo em seu relativismo, Protágoras ensinou em sua obra, Antilogias, aquilo que Aristóteles considerou como sendo a negação do princípio da não-contradição, ou seja, a verdade simultânea dos contraditórios em relação ao mesmo e a identidade do verdadeiro e do falso.
O que Protágoras ensinava era o princípio das duplas razões contraditórias (antilogia), mostrando que para cada afirmação a respeito de algo é possível contrapor uma outra com a mesma aparência de verdade.
Isso significa que, não havendo uma verdade absoluta, mas só verdades relativas, é possível refutar qualquer afirmação ou negação sobre o que quer que seja, pois sempre é possível, por meio da habilidade retórica, construir um discurso que destrua aquilo que aparentava ser a verdade mais sólida. Essa é a única virtude (areté) a ser ensinada e possuída, e coincide com o mais útil.
A sua filosofia procurou tornar claro que não é possível uma fundamentação dos valores e princípios éticos. Como alternativa à busca dos valores absolutos e a sua aplicação no âmbito da vida pública, ele estipulou um critério de discriminação entre o que deve ser aceito e o que deve ser rejeitado e este critério é o da utilidade.
O sábio será aquele capaz de reconhecer aquilo que é o mais útil e, portanto, o melhor a um determinado sujeito individual, sem pretender que torne-se universal.
Como exemplo, temos o médico que é capaz de prescrever o que é mais útil para um determinado doente ou mesmo para uma pessoa saudável, ou os agricultores que sabem o que é mais útil e melhor para a sua plantação. O político é sábio enquanto conhece o útil para a cidade e sabe como produzi-lo.
O seu critério não está baseado em uma suposta essência, mas na avaliação das circunstâncias e peculiaridades que envolvem cada caso particular. Protágoras defende uma moral com base em convenções, em função da impossibilidade de uma fundamentação ética, mas não exclui a necessidade da busca do que é melhor em função de ser o mais útil.
A obra Sobre os Deuses teria causado ao filósofo grandes aborrecimentos, tendo sido inclusive condenado à morte em função do seu conteúdo ofensivo à religião.
Esta informação não parece verídica, mas o certo é que Protágoras expressou um forte ceticismo em relação à possibilidade de um conhecimento acerca da existência dos deuses.
A posição de Protágoras sobre este assunto não pode ser confundida com o ateísmo, pois expressa apenas a convicção de que a razão humana tem os seus limites e não pode ultrapassá-los.
Referências Bibliográficas
- DUMONT, J. P. Elementos de história da filosofia antiga. Brasília: EdUnB, 2005.
- KIRK G. S. Os Filósofos pré-socráticos. Ed. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1994.
Leia também no netmundi: