FILOSOFIA

O que é Relativismo Cultural?

Relativismo Cultural - introdução e conceitos

Relativismo cultural é um conceito da antropologia moderna que aponta para a evidente diversidade dos povos e se opõe ao etnocentrismo, que declara a superioridade de determinada cultura. No relativismo cultural não é a “verdade” que é relativa, mas os valores de cada cultura, religião ou grupo social. Em outras palavras: o relativismo cultural afirma que não há cultura superior ou povos superiores; visa demonstrar a importância de cada cultura, evitando a hierarquização e comparação dos povos, tal como ocorreu no passado e ainda ocorre atualmente. É considerado postura indispensável a qualquer pesquisador que pretenda estudar culturas diferentes da sua.

Avaliar outras culturas com base em nossa própria cultura é erro comum mesmo entre filósofos. O próprio Aristóteles, um dos mais importantes filósofos da antiguidade, declarou que ser escravizado pelos gregos seria benéfico aos povos bárbaros, pois assim teriam contato com a civilização superior da Grécia, afirmando ainda que “somente os aristocratas gregos são nobres em todos os lugares, enquanto que os bárbaros são nobres apenas em suas terras”. Sugeriu também que os bárbaros eram mais adequados aos trabalhos braçais, enquanto que os gregos eram mais propensos à atividade intelectual.

Este raciocínio etnocêntrico se repetiu ao longo da história, se adequando à cultura e religião dos povos conquistadores de cada época, justificando a exploração dos “povos primitivos” pelos “povos civilizados”. Por isso, o relativismo cultural combate o etnocentrismo, normalmente associado à dominação cultural, religiosa e econômica; busca também conhecer e evidenciar os valores singulares de cada cultura, evitando a destruição de tradições milenares.

Um dos exemplos clássicos de destruição amparada pelo etnocentrismo é a conquista dos povos pré-colombianos pelos espanhóis, que sob o argumento de acabar com “costumes pagãos” e lhes apresentar “a verdade”, seja religiosa ou civilizacional, escravizaram e dizimaram populações inteiras. Contudo, a verdadeira intenção era explorar as enormes riquezas minerais da região, como o ouro e a prata. Em nome da “superioridade cultural” muitos conhecimentos de astronomia, matemática, arquitetura e urbanismo das civilizações inca, asteca e maia foram perdidos. Fato semelhante ocorreu durante a colonização do Brasil com os povos nativos e africanos.

Apesar do relativismo cultural valorizar as características de cada povo, seus defensores enfrentam desafios éticos internos, como justificar costumes locais violentos e até atrozes. A solução para esse dilema, entretanto, não estaria na dominação, afinal, a história mostrou que dominações são formas de exploração. Todavia, ainda que cada cultura tenha seu valor e deva ser preservada, deveríamos nos perguntar se não existiriam ideais humanos inalienáveis e universais, como a não aceitação da violência desnecessária contra qualquer ser humano.