A palavra “hierofania” vem do grego antigo “hieros”, e significa “manifestação divina” ou “aparição sagrada”. O termo foi cunhado pelo historiador das religiões Mircea Eliade, em sua obra “Tratado de história das religiões”, e foi usado para descrever a experiência do sagrado em diferentes culturas e tradições religiosas.

Para Eliade, a hierofania é uma das características universais da religião, que permite aos indivíduos entrar em contato com o sagrado e experimentar a sensação de transcendência e significado em suas vidas. A hierofania pode ocorrer em diferentes formas, como o aparecimento de um deus ou deusa em forma física, uma experiência mística, a revelação de uma escritura sagrada, a santificação de um local ou a ocorrência de um milagre.

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A hierofania pode ser estudada a partir de diferentes perspectivas filosóficas e sociológicas, como a fenomenologia, a hermenêutica e a teoria crítica. A partir da fenomenologia é possível analisar a experiência da hierofania como vivência subjetiva e individual que envolve a percepção do sagrado por meio dos sentidos e das emoções.

Já a hermenêutica se preocupa com a interpretação dos textos, símbolos e narrativas religiosas que surgem, por exemplo, em escrituras sagradas — tal como ocorre no judaísmo, no cristianismo e no islamismo. A teoria crítica, por sua vez, questiona as implicações políticas e sociais das hierofanias, analisando como o fenômeno religioso é utilizado como ferramenta para legitimar relações de poder, opressão e estelionato em diferentes contextos históricos e culturais.

Entre os povos originários a hierofania se apresenta como êxtase que revela a sabedoria e a orientação de entidades ligadas à natureza, promovendo a cura de doenças e a coesão social. Essas práticas ritualísticas dos povos originários receberam atenção especial de Mircea Eliade, que as considera as mais antigas formas de religiosidade da humanidade. Sua pesquisa sobre esse tema foi publicado na obra “O Xamanismo e as Técnicas Arcaicas do Êxtase”.

A hierofania é um conceito que tem despertado grande interesse na filosofia da religião, especialmente em tempos de crise e incerteza. A busca por significado e transcendência parece estar mais presente do que nunca em nossas vidas. A hierofania — como um tipo de êxtase ou epifania — se apresenta como resposta para questões existenciais e espirituais que nos inquietam; ao mesmo tempo, ela nos confronta com as diferenças culturais e religiosas que nos separam, nos convidando a respeitar e valorizar a diversidade humana em suas múltiplas formas de expressão religiosa.

Autor: Alfredo Carneiro – Graduado em Filosofia e pós-graduado em Filosofia e Existência pela Universidade Católica de Brasília.