Filosofia de vida é uma expressão popular utilizada para se referir à visão de mundo que um indivíduo utiliza para guiar suas ações. Trata-se, portanto, de uma moral particular ou conjunto de valores pessoais, e não tem necessariamente compromisso com o pensamento filosófico. Geralmente é influenciada por contextos familiares, econômicos, sociais e religiosos; somam-se a isso experiências de vida e caraterísticas de personalidade.
A expressão também é utilizada para se referir a costumes religiosos ou características culturais, como filosofia de vida cristã, budista ou espartana. Assim, é muito utilizada quando alguém diz, por exemplo, que “adota yoga como filosofia de vida”. Porém, de acordo com os fatores citados acima, mesmo que alguém se declare adepto de alguma doutrina ou religião, sempre existirá um significado pessoal na filosofia de vida de um indivíduo.
Filosofia de vida e autoconhecimento
Nem todos estão conscientes de suas próprias filosofias de vida. Nesse sentido, os valores individuais se refletem nas atitudes, e não tanto no que se diz. Dessa forma muitos filósofos destacam a importância do autoconhecimento para que a vida seja vivida conscientemente. Sobre isso, o antigo filósofo grego Sócrates é radical:
“Uma vida irrefletida não vale a pena ser vivida.”
Sempre existirá relação entre experiências pessoais, fatores sociais, crenças religiosas e filosofia de vida. Por isso é importante ter clara percepção dessa relação para que nossos discursos sejam coerentes com nossas ações. O filósofo francês Michel de Montaigne é poético nesse ponto:
“O verdadeiro espelho de nossos discursos é o curso de nossas vidas.”
Assim, para quem busca construir uma filosofia de vida consciente, é importante observar se as ações refletem as palavras. Esse é um método de perceber a nós mesmos; pode ser também caminho para a vida genuína e, talvez, para o surgimento da reflexão filosófica. Esse é um pequeno truque para perceber, de fato, qual sua filosofia de vida.
- Sugestão de leitura
Filosofia de vida na Educação
Atualmente muitos educadores consideram que as relações sociais, psicológicas e econômicas são fatores essenciais na formação dos alunos e suas filosofias de vida. No Brasil, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) criou a competência Projeto de Vida, preconizando:
“Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais, apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu Projeto de Vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade”.
O exemplo de René Descartes
Um exemplo de definição consciente de filosofia de vida são os argumentos do filósofo francês René Descartes (1596-1650) na obra Discurso sobre o Método, que estabeleceu uma “filosofia de vida provisória” enquanto prosseguisse com sua busca pela verdade. A princípio, Descartes descreve o desejo de distinguir o verdadeiro do falso para tomar decisões seguras:
“Sempre alimentei grande desejo de diferenciar o verdadeiro do falso para ver com clareza minhas ações e caminhar com segurança nessa vida.”
O filósofo define então um modo de vida baseado na utilidade, na sensatez e na razão. Dentre as várias formas de “diferenciar o verdadeiro do falso”, Descartes destaca:
“Mesmo sabendo que entre persas e chineses existem pessoas sábias e sensatas, eu tinha a impressão que o mais útil seria orientar-me por aqueles com os quais eu precisaria viver e, para estar bem certo de suas opiniões, estabeleci como norma antes observar aquilo que faziam do que aquilo que diziam.”
“Tal como o homem que anda só e nas trevas, resolvi agir lentamente utilizando a sensatez em todas as coisas, de modo que, apesar de caminhar lentamente, pelo menos tinha a certeza de não cair.”
Estabelecendo essas regras iniciais, Descartes desenvolveu um método para “dirigir a própria razão” que influenciou até mesmo a pesquisa científica. Dentre as máximas desse método, uma delas deveria fazer parte de qualquer filosofia de vida:
“Jamais aceitar como verdadeira coisa alguma que não estivesse tão clara à minha mente que não restasse dúvidas de sua verdade.”
Como resultado dessas poucas “precauções cartesianas”, pode-se refletir sobre valores morais, religiosos ou regras de convivência, desenvolvendo, desse modo, um “crivo da razão”, tal como fez o filósofo, que nos deixou ainda valioso conselho:
“É bom saber alguma coisa dos costumes de outros povos, para que melhor julguemos os nossos e não achar que tudo o que contraria nossos hábitos seja ridículo, como fazem aqueles que nada viram.”
- Sugestão de Leitura
Filosofia de vida: frases curtas dos filósofos
- Aristóteles
- “Somos aquilo que fazemos repetidamente.”
- “As coisas nobres e boas da vida só são conquistadas pelos que agem retamente.”
- “O homem que não se alegra com ações nobres não é sequer bom.”
- “A grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las.”
- Sócrates
- “Uma vida irrefletida não vale a pena ser vivida.”
- “Ainda que eu saiba pouca coisa, não acredito saber aquilo que não sei.”
- “A ignorância mais reprovável é acreditar saber aquilo que não sabe.”
- “A virtude não nasce da riqueza, mas, ao contrário, são as riquezas que nascem da virtude”.
- Albert Einstein
- “A solidão é mestra da personalidade. O indivíduo que teve a experiência da solidão não se torna vítima fácil da sugestão das massas.”
- “A humanidade se apaixona por finalidades irrisórias que tem por nome a riqueza, a glória e o luxo. Desde moço eu já as abominava.“
- “A religiosidade genuína não passa pelo medo da vida, pelo medo da morte ou pela fé cega, mas pelo esforço em atingir o pensamento racional.”
- “Procure ser homem de valor em vez de procurar ser homem de sucesso.”
- Jean-Paul Sartre
- “O homem faz-se, ele não está pronto logo de início. Ele se constrói escolhendo sua moral.”
- “O homem nada mais é que o conjunto de seus atos, nada mais que a sua vida.”
- “O sentimento constrói-se através dos atos praticados.”
- David Hume
- “A paixão pela filosofia, assim como pela religião, são inconvenientes quando feitas com imprudência e egoísmo.”
- “Um coração egocêntrico não pode conceber espontaneamente a amizade e a bondade.”
- “O pensamento mais vivo é sempre inferior à experiência.”
- Michel de Montaigne
- “Ciência sem consciência não é mais que a morte da alma”
- “Sem objetivo definido a alma se perde, pois estar em toda parte é não estar em lugar algum.”
- “Toda sabedoria e inteligência resulta finalmente que aprendemos a não ter medo de morrer.”
- Willian Shakespeare
- “Uma pessoa rica não é a que tem mais, mas a que precisa menos.”
- “A sabedoria e a ignorância se transmitem como doenças; daí a necessidade de saber escolher as companhias.”
- “Antes ser censurado por ser calado do que por falar demais.”
- Immanuel Kant
- “A boa vontade é condição indispensável para sermos dignos de felicidade.”
- “O mais alto valor moral do caráter consiste em fazer o bem não por desejo pessoal, mas por dever.”
- “A coragem, a decisão, a firmeza de propósitos e outros talentos do espírito podem ser nocivos se o caráter não for bom.”
- Epicuro
- “Para realizar algo pela saúde espiritual, ninguém é novo demais nem muito velho.”
- “É necessário praticar desde cedo aquilo que confere felicidade, pois com ela temos tudo, e a quem ela faltar, tudo fará para consegui-la.”
- “A ti mesmo te impões infinitos desejos e temores.”
- “Se queres enriquecer alguém, não lhe acrescentes riquezas, mas diminui-lhe os desejos.”
- “O justo é sereno, o injusto cheio de perturbações.”
- “Aquele que inspira medo aos outros, não está ele mesmo livre desse medo.”
- “Não devemos nutrir inveja contra ninguém. Os bons não a merecem, e os maus se prejudicam na medida que realizam seus projetos.”
Autor: Alfredo Carneiro – Graduado em Filosofia e pós-graduado em Filosofia e Existência pela Universidade Católica de Brasília.