Giovanni Pico della Mirandola e o humanismo renascentista
Giovanni Pico della Mirandola nasceu no castelo de Mirandola em 1463 e morreu em Florença, na Itália, em 1493. Desde cedo, recebeu educação esmerada, inicialmente voltada para a carreira eclesiástica. Depois da morte de sua mãe (ele tinha apenas 15 anos e já era órfão de pai), decide aprofundar-se nos estudos filosóficos. Durante alguns anos, circula pelos grandes centros culturais da Itália – Ferrara, Pádua, Florença –, onde tem contato com os grandes humanistas da época, entre eles Marsilio Ficino, por intermédio de quem toma contato com o neoplatonismo típico da academia florentina. É considerado um dos mais influentes representantes do humanismo renascentista.
Inicialmente, a palavra “humanista” vem designar, no Renascimento italiano, um tipo peculiar de intelectual: alguém que se dedicava às humanidades, inspirado diretamente nos clássicos gregos e latinos, e que contrastava com outros tipos de intelectuais: os legistas, que se ocupavam das leis e do direito e os teólogos. Esses pensadores defendiam o resgate da cultura humanística dos clássicos, que viam como viva e fecunda. Distinguiam-se igualmente por defender um ideal cultural e pedagógico próprio – e, por extensão, também um ideal de homem –, a que se poderia chegar por meio do cultivo das humanidades. A obra de Giovanni, Discurso sobre a dignidade do homem, é considerada uma das principais obras desse movimento.
O Discurso (título que foi dado postumamente por um editor das obras de Pico), foi escrito em 1486 para ser lido diante do Papa, em um concílio privado em Roma que deveria discutir algumas das ideias defendidas por Pico. O concílio acabou não acontecendo e algumas das idéias de Pico foram consideradas heréticas e o Discurso jamais foi lido ou publicado durante a vida do filósofo.
Isso não impediu que esse texto seja até hoje um dos mais conhecidos e admirados do humanismo italiano. Giovanni Pico della Mirandola morreu em 1493, aos 30 anos, possivelmente vítima de envenenamento. Muito erudito (conta-se que tinha uma memória prodigiosa), conhecia bem a tradição filosófica grega e latina, como era comum entre os humanistas, mas também as tradições árabe (foi leitor de Averróis) e hebraica (estudou a filosofia judaica e a Cabala).
Também conhecia a filosofia escolástica e, algumas vezes, tomou sua defesa contra a opinião corrente entre seus amigos humanistas. Apesar da postura da Igreja diante de sua obra, estava convencido da superioridade da religião cristã, que via como ponto de convergência de todo o pensamento anterior. Pensou em entrar para a ordem dominicana, projeto interrompido por sua morte prematura.
A obra de Pico, em suma, é uma defesa do estudo da filosofia. Dois temas justapõem-se: o primeiro, que deu fama e acabou incorporado ao título da obra é o da dignidade humana; o segundo é o da unidade da verdade, que remete para um ideal de convergência do que há de verdadeiro em todos os sistemas filosóficos. No centro dessas crenças, está a exaltação da dignidade da natureza humana, que, por sua vez, fundamenta o ideal de homem a que devemos aspirar de modo a realizar nossa própria natureza de forma excelente. Giovanni Pico della Mirandola foi um exemplo brilhante do humanismo renascentista.
Referências Bibliográficas
- BURCKHARDT, Jacob Christoph. A cultura do renascimento na Itália. Brasília: UnB, 1991.
- ROVIGHI, Sofia Vanni. História da filosofia moderna. São Paulo: Loyola, 2000.
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