A ética é o conjunto de valores e costumes difundidos por uma determinada sociedade, enquanto que a moral é a prática individual influenciada por esse conjunto de valores éticos. Então, ética e moral se complementam, uma vez que nossas decisões morais são também influenciadas pelos valores éticos que recebemos de nossa família, da sociedade da comunidade.
É importante enfatizar que a separação formal entre moral e ética acontece principalmente a partir da Filosofia Contemporânea. Antes disso, os filósofos não tinham uma fronteira rígida entre esses dois conceitos.
Será a partir do surgimento da modernidade, principalmente com Descartes, que as questões individuais se tornam fundamentais, dando início às investigações entre as tensões internas do sujeito (moral) em confronto com a cultura e as leis (ética).
A ética é o rosto de um povo
A palavra ética é oriunda do grego ethos, que é o espaço simbólico construído pelas práticas de um povo. O ethos nasce da interação dos indivíduos visando o que é bom e certo para a coletividade, e o resultado desta interação é transmitido às futuras gerações.
É, portanto, uma construção social e histórica. A prática do que é considerado correto integra o indivíduo ao ethos de seu povo e também às esferas sociais. O ethos é, portanto, o rosto de um povo. O indivíduo que questiona o ethos de seu grupo tende a enfrentar enorme resistência.
Aqueles que zelam pelos valores éticos de seu povo são chamados de “vigilantes do ethos“, pois garantem a continuidade desses valores, resistindo às mudanças que ocorrem na tradição.
Um bom exemplo é o respeito que os japoneses têm para com o mais velhos, que são vistos como portadores de experiência e sabedoria. Podemos dizer então que o respeito aos mais velhos é um valor ético do povo japonês, transmitido de geração em geração. Aquele que não demonstra respeito pelos mais velhos tende a ser rejeitado nas esferas sociais.
A decisão moral
A moral é um confronto pessoal entre aquilo que somos e a aquilo que devemos ser. Devemos ser educados; não devemos roubar nem matar; devemos ajudar o próximo na medida do possível.
Esses valores nos são repassados através de uma ética (o ethos). Toda ação moral pressupõe um conjunto de valores éticos que a direcionam. A ética é o conjunto desses princípios e a moral a prática individual desses princípios. É esta é a diferença fundamental entre ética e moral. No passado, muitos filósofos não diferenciavam moral e ética, mas atualmente a filosofia contemporânea faz esta divisão.
O dilema moral surge quando devemos fazer o que é certo, no entanto, não queremos (ou não podemos) fazer o que é certo.
Um exemplo é estar atrasado para uma festa e, no meio do caminho, encontrar alguém que sofreu um acidente e precisa de ajuda. Não queremos perder a festa, mas devemos ajudar. Temos então que decidir o que fazer, e esta é uma decisão pessoal. A ética, então, tem a função de nos apoiar nas escolhas morais.
Interação entre ética e moral
Na interação entre ética e moral não existe rigidez. Os valores éticos são uma referência sobre o que devemos fazer, e não uma lei absoluta. Podemos tomar a mentira como exemplo. Não devemos mentir, mas, e se for para salvar uma vida? Certamente não iremos pensar: “Não devo mentir, pois é errado. Então vou deixar essa pessoa morrer”.
Por isso o filósofo grego Aristóteles disse que a ação moral exige a sabedoria de lidar com o imprevisto, para isso ele recomenda a prudência e a sagacidade. Sócrates também expressou esta questão: “Aquele que contraria a lei por julgá-la injusta, este é melhor que a lei”.
Alfredo Carneiro
Editor do netmundi.org
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