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Anaxágoras: a teoria das infinitas sementes originárias

Anaxágoras - teoria das infinitas sementes

Anaxágoras de Clazômenas (500/428 a.C) foi um filósofo pré-socrático, sendo o primeiro a levar a filosofia para Atenas. Foi preso sob acusação de impiedade, sendo obrigado a pagar uma multa e sair da cidade. Escreveu a obra Sobre a Natureza, da qual restam alguns fragmentos. Manteve a ideia de Parmênides de que nada pode surgir do não-ser, assim como o que é verdadeiramente não pode deixar de ser. Tal como Empédocles, conciliou o Ser com a dinâmica da natureza (o devir), por isso é considerado um filósofo pluralista.

Escolheu mais de um princípio para justificar a multiplicidade da natureza, que nada mais seria do que a união e separação daquilo que nunca deixa de ser, conforme o fragmento 17:

“Os gregos cometem um erro ao admitir o nascimento e a morte, pois coisa alguma se cria ou se perde, mas apenas se une ou separa.”

Os princípios, para Anaxágoras, são: o Nous (Espírito, Inteligência ou Mente) e as homeomerias (partes iguais). Essas últimas são as sementes originárias infinitesimais, infinitas em quantidade e qualidade. Receberam esse nome porque são divisíveis ao infinito e de cada divisão resulta uma parte igual a anterior.

Todas as coisas são compostas de diferentes homeomerias e para cada qualidade observada na natureza existe uma determinada homeomeria. Por exemplo: existe um tipo responsável pelas qualidades que o cabelo apresenta, assim como para o sangue, os ossos, a pele, os nervos etc. Cada parte do nosso corpo é constituída por estas sementes infinitesimais, assim como todos os seres.

Na origem, as homeomerias estavam todas juntas, constituindo um todo sem distinção. Elas se diferenciaram e possibilitaram o surgimento de todas as coisas em função do movimento inicial produzido pelo Nous. Ao iniciar o movimento, o Nous possibilitou a diferenciação e a combinação das homeomerias. O Nous é concebido por Anaxágoras como uma inteligência divina independente das homeomerias, conforme o fragmento 12:

“Todas as outras coisas têm uma porção de tudo, mas o Espírito é infinito e autônomo, e não se mistura com o que quer que seja, mas existe sozinho.”

O fato de todas as homeomerias estarem presentes em todos os seres não impede que os seres sejam diferentes uns dos outros, pois ocorre sempre o predomínio desta ou daquela homeomeria e as outras permanecem em pequena quantidade.

Por isso, Anaxágoras afirmou que tudo está em tudo, sem que isto contradiga a identidade de cada coisa particular.

Com base na doutrina dessas infinitas sementes, Anaxágoras explicou como é possível que alguém se alimente de pão ou de carne e extraia aquilo que é necessário para a manutenção da vida. Cada alimento possui uma quantidade de homeomerias em maior ou menor quantidade, e podem, dessa forma, alimentar o corpo.

Essa concepção sobre os princípios e sua interação permitiu a Anaxágoras explicar o surgimento e o desaparecimento que constatamos mediante os sentidos (como o nascimento e a morte), e afirmar que nada resulta do nada ou transforma-se e dissolve-se no nada. Cada homeomeria presente na natureza nunca deixa de existir, apenas se divide e se combina de diferentes formas. Além disso, a multiplicidade de qualidades representadas por cada semente permite a explicação da multiplicidade do cosmo.

Em relação ao conhecimento, Anaxágoras adotou uma teoria oposta à de Empédocles, pois afirmou que os semelhantes não afetam os semelhantes. É através dos contrários que conhecemos as coisas: o quente pelo frio, o amargo pelo doce e assim sucessivamente.

A importância dos pré-socráticos


O termo pré-socrático carrega certo preconceito: é entendido como reflexão filosófica inicial que só irá amadurecer com Sócrates, Platão e Aristóteles. Também é pouco creditado aos pré-socráticos as bases que irão definir todo o pensamento ocidental depois deles.

Esse preconceito não condiz com a importância desses primeiros filósofos, que representam a aurora não apenas da Filosofia, mas da própria razão humana. Foram eles que criaram os conceitos universais que seriam utilizados posteriormente na ciência, bem como vários modelos utilizados pelos filósofos depois deles, inclusive Platão.

Alguns estudiosos desse período, como John Burnet, afirmam que os pré-socráticos representam uma sofisticada abstração que não deve ser interpretada como “filosofia inicial”, e só deveriam ser estudados depois de percorrida a longa estrada da filosofia.

Dentre os pré-socráticos estão:

AutorAlfredo Carneiro – Graduado em Filosofia e pós-graduado em Filosofia e Existência pela Universidade Católica de Brasília.

Referência Bibliográfica


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