Michel de Montaigne, o primeiro blogueiro
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A principal obra de Michel de Montaigne (1533-1592), Os Ensaios, foi publicada em 1580. Nessa época, a Igreja Católica exercia censura sobre todos os livros a serem publicados. Sendo Montaigne um nobre francês envolvido com política, submeteu espontaneamente seu livro aos censores da Igreja. Montaigne se dizia cristão, mas adotava o relativismo cultural e fez, em sua obra, várias críticas aos costumes da tradição cristã, algumas muito severas.
No entanto, entre um parágrafo e outro, ele afirmava coisas do tipo: “Os esforços de Sócrates foram inúteis, pois ele não chegou a conhecer Nosso Senhor Jesus”. Seu estilo parecia contraditório, entretanto, ele claramente incentivava o cristianismo. Esse fato fez com que sua obra fosse aprovada.
Montaigne, de fato, incentivava a aceitação do cristianismo. Não porque concordava plenamente com ela, mas por acreditar que devido à impossibilidade de atingir qualquer verdade, as pessoas deveriam se refugiar em alguma tradição. E o cristianismo era sua tradição mais próxima. Todavia, o filósofo francês não via problema algum no fato dos outros povos adotarem outras religiões e tradições, uma vez que nenhuma delas, nem o cristianismo, teria verdade alguma, mas apenas utilidade social.
Essa foi a sutileza que a Inquisição não captou. Se os censores tivessem percebido isso, a obra seria proibida e talvez Montaigne sofresse algumas consequências, afinal, para um religioso cristão sua crença é absoluta e deveria ser uma verdade absoluta também para outros povos — considerados pagãos e, por isso mesmo, pecadores.
Seu livro é considerado uma das grandes obras da filosofia moderna. Os vários filósofos que avaliaram sua obra consideram Montaigne um cético e relativista cultural. Escreveu em uma das vigas de seu escritório: “A única certeza é que de nada se tem certeza”. Suas ideias estavam escondidas nas sutilezas de seus textos contraditórios, quase como um código.
Montaigne fala sobre tudo, desde flores, animais, mulheres, traições e até de seu próprio pênis. O filósofo não se restringiu aos temas filosóficos clássicos. Isso fez com que alguns leitores contemporâneos, em tom de brincadeira, afirmassem que ele foi o “primeiro blogueiro”, uma vez que os temas de seus textos eram variados e escolhidos ao acaso, de acordo com aquilo que despertava seu interesse pessoal, além de ter um estilo mais livre que os filósofos de sua época.
Autor: Alfredo Carneiro
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