Nietzsche e os filósofos pré-socráticos
O filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844 – 1900) considerava os pré-socráticos os verdadeiros filósofos, pois criaram uma filosofia voltada para a vida e seu dinamismo; para a investigação da unidade da realidade através da contemplação da natureza. Por isso foram chamados de “filósofos da natureza” ou “filósofos da physis”.
Heráclito, um dos pré-socráticos que influenciaram Nietzsche, declarou que “um mesmo homem nunca se banha no mesmo rio, pois outras são as águas e outro é o homem“, apontando para a eterna transformação da natureza e enfatizando que o homem faz parte desse dinamismo, estando também em constante transformação.
O termo “pré-socrático”, utilizado tradicionalmente para se referir a esses pensadores, oculta dois tipos de preconceito. O primeiro consiste em considerar que o pensamento anterior a Platão é uma “infância” da filosofia. O segundo é supor que ocorreu uma ruptura entre os primeiros filósofos gregos e os filósofos posteriores.
Essa visão negativa desconsidera que os primeiros filósofos são o marco inicial não apenas da filosofia, mas da própria razão humana na sua forma mais pura.
Acreditar que a filosofia de Platão é uma ruptura é também um erro, pois alguns pré-socráticos, como Parmênides, são a semente do que seria posteriormente a filosofia platônica.
Nietzsche foi contra essa visão negativa, e enfatizou que os pré-socráticos criaram os primeiros modelos da filosofia ocidental, além de fundarem as bases da ciência com seus conceitos universais. O conceito de átomo, por exemplo, foi criado pelos filósofos pré-socráticos Leucipo e Demócrito. A forma racional de investigação científica é também herança desses primeiros pensadores.
Porém, conforme Nietzsche aponta insistentemente, a partir de Platão a filosofia perdeu o brilho dos primeiros filósofos, se voltando para uma investigação puramente conceitual ou espiritual, desprezando a realidade e considerando “este mundo” apenas sombra da “verdadeira realidade”, conforme surge na Alegoria da Caverna.
O próprio conhecimento, de acordo com Platão, é uma lembrança que temos ao filosofar (de quando nossa alma vivia na verdadeira realidade antes de decair neste mundo) e não fruto da relação direta do homem com a natureza, como ocorria entre os pré-socráticos.
Por isso Nietzsche considera que a filosofia de Platão não é um amadurecimento filosófico, mas um erro que levou o ocidente a se voltar para o que não existe, separando o homem da natureza e desprezando este mundo, além de dar vazão para interpretações religiosas que tornaram o homem fraco e impotente.
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Autor: Alfredo Carneiro – Graduado em Filosofia e pós-graduado em Filosofia e Existência pela Universidade Católica de Brasília.